A janela indiscreta que atém toda atenção e curiosidade dos meninos na adolescência lá entre seus 13 a 17 anos, revela atitudes desde as paixonites pela bela vizinha mais velha até a necessidade de provar sua coragem ao ter seu primeiro porre ou se jogar do telhado de uma casa, tudo por desafio ou diversão, é claro. Coisas comuns da adolescência, imaturidade para alguns ou casos bem pensados para os outros. Exceto para as meninas Lisbon.

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Apesar de não serem as animadoras de torcida da escola, ou as mais belas, conseguem ser descoladas em suas roupas de mangas compridas e longas saias que escondem tornozelos branquinhos. Nada de brincos reluzentes, batons chocantes, mas algumas pulseiras, o cheiro floral do sabonete e um crucifixo de enfeite no sutiã são o suficiente para aguçar o imaginário de qualquer garoto da vizinhança.

O primeiro filme de Sofia Coppola, As virgens suicidas (1999), baseado no livro de Jeffrey Eugenides, retrata a história de cinco jovens e belas irmãs na fase das descobertas em meio às regras das tradicionais e conservadoras famílias norte americanas. Cecilia (Hanna Hall) de 13 anos, Lux (Kirsten Dunst) de 14, Bonnie (Chelsea Swain) de 15, Mary (A.J. Cook) de 16 e Thereze (Leslie Hayman) de 17, completam os constantes pensamentos e suspiros de um grupo de garotos da rua que tentam decifrar o mistério por trás do suicídio coletivo das irmãs.

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O Sr. Lisbon (James Woods), um professor de matemática da escola das meninas e a Sra. Lisbon (Kathleen Turner), uma católica fervorosa, criam suas filhas na redoma de proteção do lar, não permitindo que as garotas expressem tantas atitudes comuns da idade e nem se envolvam com garotos. Quando a caçula, Cecilia, corta os pulsos na banheira, tentativa que falha, tudo o que a garota responde ao médico diante da afirmação “Você não é velha o suficiente para saber o quanto a vida é difícil”, é “Claro, doutor. Você nunca foi uma garota de 13 anos”. Fica claro que a paz do lar Lisbon foi contaminada pelo mundo real.

“Todo mundo tinha uma teoria para explicar por que ela havia tentado se matar. Para a Sra. Buell, a culpa era dos pais. ‘Aquela menina não queria morrer’, disse a nós. ‘Tudo que ela queria era sair daquela casa.’ E a Sra. Scheer completou: ‘Queria sair daquele estilo de decoração’” (trecho do livro homônimo). A tentativa falha de Cecilia, foi o suficiente para alardear os pais para a vida fora das regras e “estilo” do lar, e dessa forma, resolvem deixar as meninas Lisbon darem sua primeira festa (com garotos). Dessa vez, Cecilia se atira da janela do quarto, rumo ao destino da estaca que atravessa seu coração.

A partir do suicídio da irmã, as quatro outras garotas Lisbon começam a caminhar para o mistério e melancolia que ronda a trajetória ao longo do filme em busca de uma única resposta que o tanto o leitor quanto o expectador se fazem: por quê?

Diante das lentes e do olhar sensível de Sofia Coppola nos deparamos com a angústia da idade e os desejos contidos dessas meninas que tanto desejamos desvendar e conhecer a cada cena. Tanto o livro quanto o filme refletem muitas vezes o papel opressor da educação fornecida por alguns pais e a sociedade que se formava naquele bairro de classe média, diante da decadência dos princípios morais até a nova vida moderna voltada ao consumo.

Seriam fatores como esses que levaram as irmãs Lisbon a optarem por tal escolha, que apenas a morte poderia resolver os conflitos que aniquilavam sua vontade de viver? Ou teriam elas notado a deterioração do ambiente de seu bairro e de um modo de vida que faria a sociedade mais infeliz? “Essa obrigação de ser feliz paradoxalmente nos deixa cada vez mais infelizes” permeia a narrativa, nos mostrando que essas belas, intensas e suicidas puderam escolher de encerrar, ou começar uma nova forma de vida.

Ser jovem e feliz não é o destaque dessa história, pois algumas vezes não é o número de anos que as costas carregam que transpassam o conhecimento de vida. Os garotos da rua e nós, os expectadores desse mistério, torcemos pelas meninas Lisbon, acompanhamos os passos das meninas Lisbon, choramos pelas meninas Lisbon, sentimos as dores das meninas Lisbon e amamos as meninas Lisbon.

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