A parceria entre a diretora Sophie Fiennes e o filósofo esloveno Slavoj Žižek rendeu em 2006 um documentário fascinante sobre o cinema chamado “O guia pervertido do cinema”. Pode-se entender o “pervertido” por vários aspectos, da mesma maneira como há diversas interpretações possíveis sobre as obras cinematográficas. O pervertido aqui, nada mais é do que explorar, utilizando-se a psicanálise e a filosofia, para destrinchar diversos aspectos de obras de cineastas como Alfred Hitchcock, David Lynch, Andrei Tarkovski, Charles Chaplin, entre outros, investigando os recônditos da psique humana. Falar sobre os filmes é falar sobre nós mesmos.

Zizek (escreverei sem os acentos gráficos para facilitar) é um filósofo irreverente, inteligente e controverso, do tipo amado e odiado. Mas no filme ele é brilhante e apaixonado, levando-nos numa torrente de revelações psicoanalíticas. A análise é estritamente pessoal de Zizek. Concorde ou não com alguns pontos. Deixe-se levar, analise depois. Fica a dica.

A diretora teve a ideia de colocar Zizek nas cenas dos filmes, ambientá-lo como um espectador e analista. Assim, nos vimos dentro da casa de “Psicose”, depois na sala onde se passa uma cena atordoante de “Veludo Azul”, descobrindo os segredos íntimos das personagens em “Um corpo que cai”, sentamos com ele num barquinho representando “Os pássaros”, e numa conversa dentro de uma sala em “Matrix”.

O filme é divido em três partes: A primeira parte trata de um assunto primordial no cinema que é a dicotomia entre a realidade e a ficção, não somente na relação das histórias dos filmes, como também, a nossa, que nessa experiência cinematográfica, ao sentarmos diante de uma tela para assistir a um filme, somos jogados para dentro de uma outra realidade diversa à nossa. Tudo se mistura. A segunda parte fala sobre a libido, tema bem Freudiano. E a terceira parte é  sobre o jogo das aparências, onde são discutidos valores simbólicos apresentados nos filmes. Confesso que as três partes se intercalam nos temas, uma penetra na outra, o que torna tudo menos didático.

Antes de terminar, é válido dizer que o documentário é delicioso, mesmo para aqueles que nunca leram nada de Freud ou Lacan. A condução apaixonada e irônica de Zizek (é quase desesperador nos primeiros minutos vê-lo falando inglês com o sotaque fortíssimo eslavo e gesticulando freneticamente), a edição cirúrgica de Fiennes, que nos traz momentos encantadores do cinema, tornam “O guia” essencial aos amantes de qualquer filme e de qualquer gênero.

Vale lembrar que a parceria entre a diretora e o filósofo resultou novamente num outro filme: “O Guia Pervertido da Ideologia” . Que trata sobre a ideologia no cinema e que passou na última Mostra Internacional de Cinema aqui em São Paulo. Quando conseguir assisti-lo, com certeza escreverei sobre ele.

Quer assistir ao filme? Aí estão os links para as três partes!

O Guia Pervertido do Cinema (legendado)

Parte 1

http://vimeo.com/34768645

Parte 2

http://vimeo.com/35104283

Parte 3

http://vimeo.com/35100202

 

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