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Os contos dos Irmãos Grimm, Perrault e Anderson ao recuperarem fábulas originadas na Idade Média, nos deixaram uma herança ao mesmo tempo da memória e do instinto humano, principalmente, no que se refere às questões do feminino. O universo imaginário das fábulas, na realidade, trata das determinações existenciais do humano, em sua dimensão feminina: em histórias como o da Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, entre outras.

A mulher, em sua formação espiritual e instintiva, passa por rituais que lhe mostram inicialmente uma fragilidade que precisa ser superada. De onde vem tal fragilidade? Vem da construção do seu próprio modo de ser, lançado em uma cultura ocidental, cuja tônica histórica e cultural está na proteção castradora da sua sexualidade. A mulher é transformada em um ser frágil e contraditoriamente é pela fragilidade que ela procura sair dessa condição.

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Para tanto, o feminino tem que assumir a fragilidade que lhe deram culturalmente, no sentido de compreender e analisar ao mesmo tempo o autêntico e o não autêntico do que é ser frágil. Aí está a luta do feminino, assumir aquilo que lhe deram como guia de para sua vida, para em seguida superar tal dado.

A dificuldade está em superar a falsa fragilidade, pois o perigo é não sair dela. Isabela Gregório corre esse risco em suas séries fotográficas ao expressar o feminino das fábulas da nossa cultura ocidental. No entanto, a sua interpretação estética ao trabalhar as tonalidades das cores que se expandem pelas suas fotos nos faz pensar que fragilidade é essa. As tonalidades das cores ganham a dimensão de uma espécie de porta de entrada para a metafísica do frágil.

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É na descoberta da metafísica do frágil que Isabela Gregório apreende o universo feminino em suas sutilezas como o da menina, em referência a uma personagem para lá de conhecida dos contos de fada, que sobe as escadas carregando uma mala. O tom rosa refletido em sua capa deixa transparecer o frágil, não seu sentido aligeirado, mas em sua dimensão autêntica, a qual significa que ser frágil não quer dizer falta de segurança.

A subida da menina com a mala em uma escada de ferro oxidada para uma porta misteriosa transmite a segurança daquele que é frágil em um mundo estranho.

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A estranheza do mundo é enfrentada pelo frágil em diversas situações das fotos de Isabela, além das escadas, como o apanhar a garrafa na beira de um lago de água turva. A luz clara que toma a foto faz o contraste entre as referências românticas do vestido com o movimento do apanhar a garrafa proveniente do lago escuro. Ou ainda o dormir sobre a pedra, o frágil em cima das determinações duras da pedra. Mas deixemos que o olhar do espectador descubra a metafísica do frágil nessa caminhada de luzes de Isabela Gregório.

* Texto escrito por Paulo Roberto Monteiro de Araújo (doutor em Filosofia pela Unicamp e docente na Universidade Presbiteriana Mackenzie) sobre o trabalho da fotógrafa Isabela Gregório.

exposicao

A Descoberta da Metafísica do Frágil
Isabela Gregório, em suas séries fotográficas, expressa o feminino das fábulas da nossa cultura ocidental. Nesta exposição a artista remonta também os figurinos usados em suas locações.
Abertura: 5 de fevereiro – 19h
Visitação: 6 de fevereiro a 7 de março
Segunda a sexta, das 10h às 21h, e sábados, das 10h às 16h
Entrada Gratuita

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