Por entre arranjos africanos, batidas de jazz e saxofone ensandecido, Fela Kuti era uma força da natureza. Filho da primeira mulher nigeriana a dirigir um automóvel, e de um pastor protestante, Fela nasceu em 1938 e teve sua partida em 1997 no auge dos seus 58 anos. Valiosos 58 anos.

Em 1958, Fela mudou-se para Londres a fim de estudar Medicina. O destino suspirou contra ele – ou a favor dele – e Sr. Kuti decidiu estudar música na Trinity College of Music. E foi lá, junto aos outros nigerianos que habitavam a capital britânica, que surgiu o grupo de highlife Koola Lobitos.

A partir de então, a vida de Fela e sua banda foi frenética. Fundindo o clássico jazz com ritmos essencialmente africanos e suspiros de funk de James Brown, foi ele, Fela Kuti, o fundador de um novo estilo de música: o Afrobeat. Detentor de 70 álbuns gravados e muitos shows, Fela foi um dos expoentes da música africana contemporânea e, por que não?, da música mundial contemporânea. Não obstante, foi a partir da criação do Afrobeat, que vários outros gêneros musicais surgiram e deram coragem para a música se tornar o que ela é hoje.

À mérito de curiosidade, Fela tinha uma estranha mania que fazia de alguns raivosos. Ele nunca mais tocava uma música sua depois que fora gravada. Nunca!

Mas não apenas de música vivia Fela Kuti. Nosso obstinado músico também lograva de natureza militante. Lutou contra o Governo Nigeriano e se rebelou a ponto de fundar o próprio partido político, o Movimento do Povo, e de se candidatar a presidente da Nigéria. Repressivo, o Governo não aceitou sua candidatura e seus planos foram por água abaixo. Mas, como todo rapaz longe de ser um pusilânime, Fela carregou intrinsecamente, até seu último dia na terra, a militância na carne e no sangue.

Entre música e militância, Fela arrumou tempo para se casar 27 mulheres – entre elas, dançarinas e vocalistas de sua banda. O ano era 1978 e seu ato serviu, não só para deleite, mas para marcar o aniversário do ataque na República Kalakuta. 1978 também foi marcado por dois estoicos espetáculos. O primeiro em Acra, no qual ocorreram tumultos durante a música Zombie, que levaram Fela a ser proibido de adentrar Gana. O segundo foi no Berlin Jazz Festival após o qual a maioria dos músicos de Fela o abandonou devido aos rumores de que ele estava planejando utilizar todo o lucro dos shows para financiar sua campanha presidencial.

Fela era isso. A antropofagia entre a bateria polirrítmica e a percussão em contratempos, diálogos de baixo e guitarra e solos de piano elétrico, saxofone intenso e vocais de chamado- e-resposta. Hoje os elementos do Afrobeat se tornaram parte da linguagem musical do século 20. Mas enquanto Fela esteve presente no mundo, seu poder de criação era amplo e único, hermeticamente intimidador.

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