Zico nunca ganhou uma Copa do Mundo. Chaplin nunca recebeu um Oscar como ator. Gandhi foi morto por um hindu. Cassiano, um dos maiores cantores que o Brasil já teve, vive hoje no esquecimento. Pai da Soul Music brasileira, ao lado de Tim Maia, o músico paraibano é muito mais do que um Otis Redding abrasileirado. Seu estilo inconfundível de cantar, mais seu grande talento como compositor e arranjador, deram profundidade e lisergia à música negra feita no Brasil. Depois dele nada seria igual.

Cassiano

Ainda citando o Síndico, o mais prestigiado quando falamos de Soul brasileiro, vale lembrar que Cassiano foi o guitarrista do primeiro disco de Tim, e também o autor de sucessos como Primavera e Eu Amo Você. Em entrevista ao Estadão, disse certa vez: “O Tim Maia era o mais próximo de mim, de dialogar sobre música. O resto dizia que eu era um bicho estranho”. Cassiano estava à frente do seu tempo: misturava bossa nova com rhythm and blues, antecipando muitas coisas que Stevie Wonder faria depois.

Da parceria com Tim, veio o contrato com a RCA, e o primeiro disco solo, Imagem e Som, de 1971. Embora seja um bom álbum, sua obra prima viria em 1973, com Apresentamos Nosso Cassiano, lançado pela Odeon. Não só por ser um dos meus três discos preferidos, mas considero o gospel progressivo desta fase do cantor como algo superior até aos tão aclamados registros da fase Racional de seu amigo Sebastião. Passados quase 40 anos desde o lançamento de Apresentamos Nosso Cassiano, ainda não ouvi nada parecido no Brasil.

cassiano_paulinho_zdan

Anos mais tarde, Cuban Soul, de 1976, traria os hits Coleção (regravado por Ivete Sangalo) e A Lua e Eu (famoso na voz de um grupo de pagode), conferindo um pouco de reconhecimento ao gênio paraibano. Do mesmo álbum é a canção Onda, que os mais atentos poderão reconhecer na introdução de Da Ponte Pra Cá, música do Racionais. Seu temperamento difícil e seu estilo de vida “doidão” contribuiriam para que Cuban Soul marcasse o início de um grande período de ostracismo na carreira do cantor, sendo seu último disco de inéditas. A única forma de desfazer essa injustiça da vida, é conhecendo e divulgando a obra de Cassiano, uma das mentes mais brilhantes da música brasileira. Pode dar o play que é pedrada!

 

01. O Vale
02. Slogan
03. A Casa de Pedra
04. Chuva de Cristal
05. Melissa
06. Castiçal
07. Me Chame Atenção
08. Calçada
09. Cinzas
10. Cedo ou Tarde

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