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Indee Styla é uma artista completa, pra aplaudir de pé, e a nossa conversa foi um verdadeiro bate-papo.

Muita inteligência e carisma fazem parte de um receptáculo sensual de mulher de mistura na sua música: rap, reggae, nusoul, hip hop e dancehall. Não me deixar levar pela quantidade absurda de assunto bom que surgia entre uma pergunta e outra foi tarefa difícil.

 

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O cenário do encontro com Indee se fez em uma padaria tradicional de São Paulo, no térreo do famoso Copan. Entre uma bicada ou outra no café qual Indee se deliciou em tomar, a espanhola contou do tanto que gosta da musicalidade brasileira. Mesmo tendo se apresentado em palcos do Canadá, França, Portugal, Grécia, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Turquia, Ucrânia, Itália, Noruega, Bélgica, parece mesmo é que o Brasil que faz teu olho brilhar.

 

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Indee vem de uma cidade bem pequena, do norte da Espanha, localizada entre Basco e França. Um lugar perto de fronteiras, de muita diversidade e de cultura rica, chamada Pamplona.

“Eu morei num bairro muito especial porque ele era formado de pessoas que migravam do sul do país. Tipo o que acontece aqui com os nordestinos que vem para o sudeste trabalhar, só que lá acontece com as pessoas do sul. Naquela época existia muito preconceito com essas pessoas  que chegavam na cidade em busca do trabalho e tal. Minha mãe é do sul.

 

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“O meu bairro era dividido. Existiam os simpatizantes da independência do pais Basco, na região da Espanha, e também os primeiros imigrantes da África Dominicana. Uma mistura absurda e muito nova que me influenciou diretamente. 

Foi nessa mistura que comecei a conhecer as pessoas. Os meus melhores amigos eram africanos e ciganos. Era uma combinação de pessoas muito diferentes umas das outras. Conheci a galera que dançava na rua, conheci b-boys e b-girls e assim fui me envolvendo com o hip-hop.”

 

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Indee foi introduzida ao Brasil através de uma amiga baiana, que conheceu em Barcelona. Foi esta mesma amiga quem a apresentou ao cenário crescente do RAP brasileiro. Durante tempos de pesquisa, familiarização e paixão crescente pela mistura brasileira, Indee acabou sendo convidada por Aquiles, um dos idealizadores Projeto Nave, para conhecer e cantar no Brasil.

 

 

Projeto Nave, inclusive, é uma banda monstruosa no cenário do RAP, que mistura rock, jazz, hip-hop, dub, funk, música brasileira e eletrônica. Eles têm gravados singles absurdos em parceria com Flora Matos, Emicida, PAC DIVE e muitos outros artistas incríveis. Se você não os conhece, está perdendo tempo.

Indee, além de rimar e cantar, é também coreógrafa e dança muito bem, obrigada. As raízes de suas influências na dança vem da música africana e jamaicana.

“Comecei com a dança no hip-hop muito por um hobbie. Conheci o hip-hop através de um dos meus irmãos, e tive vários contatos com a cena a partir dali. Isso quando tinha mais ou menos 10 anos de idade.” 

 

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“Nunca tive grana pra me formar dançarina, pagar aulas. Mas o hip-hop foi o que me deu força pra acreditar em mim. De um jeito tipo: ‘Você vai fazer a sua história. Você tem essa possibilidade’. 

Depois de um tempo comecei tomar aulas, e tempos depois minha professora acabou cedendo espaço pra eu dar aula também. Ela me confiou isso e a partir daí comecei minha carreira como coreógrafa. É muito louco e bom saber que eu vim da rua e mesmo assim comecei a dar aula em escola.

Dando estas aulas eu aprendi também sobre a pedagogia. Quase tudo em minha vida eu aprendi de um jeito muito autodidata.”

 

 

“No hip-hop hoje eu acredito que seja muito assim. Você pode transformar nada um tudo. Você pode começar dançar, rimar, pintar na rua e não precisa de muito mais. Você pode fazer arte de um jeito muito simples. Mas também tem a questão de ser original. Porque no hip-hop você precisa fazer as coisas de uma forma muito sua, muito original se não também morre. Não dá pra ser mais do mesmo.”

 

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“Comecei escrever paralelamente à dança. Quando tinha 18 anos eu perdi o medo e passei a mostrar minhas letras para meus amigos. Daquele jeito, sabe? Mas mostrava.  Aí eles falavam que eu deveria continuar, que deveria gravar uma música. Foi então que comecei a me envolver com mais pessoas da região que já faziam isso.”

 

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“Minha região é muito pequena, mas a comunidade do hip-hop daquela época era bem grande. Interagia muito nas praças, e íamos pra outras regiões também. A gente ia pra França só pra curtir, estar presente em festivais que existiam naquela época.

Esses festivais uniam os 4 elementos do hip-hop e era incrível. Por mais que hoje a gente veja claramente a separação destes elementos, eu vivi uma época qual eram todas unidas. Aconteciam eventos conjuntos e tinha uma energia boa demais. Com 21 anos de idade eu fui pra Barcelona viver da dança e pra evoluir como cantora.”

 

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Quando perguntei para Indee como era sua relação com as duas formas de criar, ela disse:

“Sou mais flexível na dança. Minha dança é mais pra fora, eu acho. Enquanto minha música é mais reflexiva. Cantar pra mim é uma missão. Eu tenho uma mensagem pra passar, sabe? Eu não posso fazer besteira com isso.

Uma coisa muito importante pra mim é saber que quando você tem o mic. na mão você tem também o poder de ter pessoas te escutando. Não dá pra desperdiçar isso dizendo coisas que não valem a pena. Cantar pra mim é me despir. Tirar a roupa da alma não é nada fácil.”

 

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Indee contou que sua primeira rima foi encorajada por um ex-namorado, que também era MC e que seu codinome surgiu de uma tag, assim como muitas outras pessoas que nasceram do hip-hop artisticamente.

Quando perguntei para Indee o porque dela ter escolhido a arte de rua, urbana, ela disse:

“A arte urbana é muito real. É muito original, também. As propriedades que ela traz é tudo o que eu quero. Ela sempre me deu a oportunidade de eu ser o que eu quisesse ser, além de ter essa conexão sem fim com a música negra, que por sinal eu gosto muito. É muita raiz. Estar na rua é algo imediato. Não é elitista. “

 

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A paixão de Indee pela música brasileira foi diversas vezes frisada no meio da conversa. Além das parcerias proporcionadas pelo Pojeto Nave, Indee também cantou aqui com outros nomes como o rapper e ex BBB, Slim Rimografia e Curumim.

“O Slim pra mim já é um grande amigo. A gente tem uma parceria muito grande. Ah… E o Curumim. Ele é foda.”

Quando pedi para Indee dizer algo que ela gostaria de ver mudando no hip-hop:

“Eu gostaria que as mulheres participassem mais do hip-hop. Que tivessem mais coragem.”

 

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Recentemente Indee lançou seu terceiro trabalho “Nómada” (2014), um EP que contou com a colaboração de artistas da nova cena reggae como Mr. Wilson e BluRum, em produções de Sublevao Kumar-Beat, Zemo, Cha the Beatcreatah e o brasilero Dr. Drumah que você deveria ouvir.

 

Confira outros trabalhos da gata, aqui em baixo e conferindo também o SoundCloud.

 

 


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