33 vezes 3 são, contra nós, imperdoáveis.

Criadores de uma imensidão profunda e obscura, possuem a mão que silencia, que agride e que, como diz Eduardo Taddeo, assalta o berço.

70 vezes 7. Casos desconhecidos, feridas na alma que geram traumas e rupturas na saúde mental. Gargantas mudas em um corpo onde abriga o espírito que almeja por um grito ensurdecedor.

Carregam sobre si a culpa. Que tal vem de fora, vem de dentro, vem do reflexo no espelho. Engole a seco o pesadelo amargo. “Você mereceu”, repete a si. É hora de arcar com as consequências.

Parece ser um fato distante, mas é vizinho de porta. Está em todo lugar, a toda hora, debaixo do seu nariz. Propagando-se em uma influência quando a mulher é assediada, objetivada, massacrada na publicidade e na arte.

Você não está cego, só não quer ver.

A mão do privilegiado aponta sem dó. Não lhe há empatia ou mesmo compaixão. Não digo sobre ele, fulano distante, é de você, homem!

Como de costume, o lado mais fraco da corda sempre arrebenta. Então a culpa cai sobre a favela, sobre o rolê, sobre o álcool e as drogas. A mulher. A roupa. A conduta. A aparência. O momento. Quanto mais a origem social e racial entra em jogo, mas calamitosa se torna a situação.

Esta que se encontra na mira de todos os lados; quando esquecer quem financia o tráfico, o crime, a pobreza é de fato mais cômodo. Assim como esquecer de onde vem as drogas para a balada da classe alta. Sabemos que até jack tem quem passe um pano.

Por Elly Smallwood (www.elly.ca)

Há o caso de um, dois, cinco, dez… trinta e três. Que seja dito, para que não seja esquecido. Que seja lembrado, cobrado.

O fato de trinta e três abusadores bateu na cara, virou assunto, polêmica. Um mal necessário. Assim mostraram-se as máscaras dos vilões, advogados do diabo, que vivem logo ali, em nosso ciclo social.
Essa é uma desgraça que age cotidianamente invisível, afinal casos dispersos não geram assunto.

Ontem. Hoje. Amanhã. Mais uma mulher perde a fé, a estima, a coragem, as mãos, os cabelos, os dentes, os filhos, o futuro de forma sã, a vida. A preciosidade de ser mulher. Nós vamos perdendo por vezes as esperanças, vivendo com medo de ser a próxima vítima, mas carregando as forças com revolta e empatia. Nossa luta vem desde a nascença. A puta que pariu.

Lidam-nos como estatísticas, nossos nomes tornam-se números insignificantes, principalmente quando a certidão carrega junto o peso da pobreza e da cor.

33 vezes 3. São os de abusos sexuais, físicos, psicológicos, sofridos por mulheres diariamente. Feminicídio, misoginia, sexismo. Controle, posse, exposição, humilhação, agressão, abandono, chantagem. Fotos e vídeos íntimos compartilhados em redes sociais. Bebidas seguidas de sexo não estando em sã consciência. Insistência psicológica para relação. Você, nessas condutas, não está longe de ser um abusador.

Falemos sobre os 30, 33 ou mais caras não somente como um caso específico, porém como uma amostra crua do patriarcado. Para que não se esqueça o silenciamento por diversas oposições, acobertados pela mídia, política e religião. O real culpado sempre dribla a situação, as provas e a lei.

Não lidamos aqui de um doente ou psicopata. Não é um coitado ou um monstro. É um homem em sua posição privilegiada, criado e abençoado pelo machismo. Sentado em seu trono, pedindo no cardápio a mulher para o servir. Como o serviço. É você, homem, quando a situação faz o ladrão.

Perdoai 70 vezes 7.

Ó, Senhor Jesus! Eu não perdoarei nem se quer uma vez. E se pecador for, que assim seja.

(Artes por Elly Smallwood – www.elly.ca)

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