Quantas vezes por dia você se mistura à multidão da sua cidade? E, se você é de São Paulo, quantas vezes já passou pelo Centro, vagou pelo Largo do Anhangabaú, foi levado às pressas pela Praça da Sé, tudo isso imaginando quantas histórias existem nesses lugares?

Mas, você já tentou ouvir essas histórias? O fotógrafo Thiago Fogolin, sim.

Thiago é um paulistano que nasceu e cresceu na região central da terra da garoa. É formado em design gráfico, já se arriscou por um semestre em Jornalismo e até mesmo se jogou na Física durante alguns anos.

Quando cogitou em investir na fotografia e foi buscar conselhos de um professor, a resposta que obteve simplesmente foi: “Não! Você não pode fazer isso. Fotografia não é para você”. Mas, mesmo assim, em 2008, ele resolveu comprar uma câmera e sair por aí.

Desde então, com a cara e a coragem, ele vem registrando o momento de diversos moradores de rua que (sobre)vivem pelos concretos do Centro e locais próximos, com os quais já firmou uma relação de confiança – que resultou em um acervo enorme de fotografias e muita, muita história.

Ele conta como se envolveu nessa temática, dá sua opinião e adianta: Tem novos projetos que pretende tirar do papel e trazer ao mundo.

Thiago, à esquerda, conquistou a confiança de alguns moradores da região.

  O que você quer com a sua fotografia?

TF: Acho que a ideia é mostrar o despercebido, no geral. As pessoas vivem tão saturadas de informação e julgamentos hoje em dia que acabam não notando a beleza que existe próximo a elas.

 

Você retrata, na maioria das vezes, pessoas em condições de vida miseráveis e que sobrevivem em São Paulo. O que acha que ainda falta para os paulistas notarem e se aproximarem dessas pessoas?

TF: Essas pessoas não passam de um reflexo do nosso modo de vida que preferimos não encarar. Não sei se há algum modo dos paulistas se aproximarem dessas pessoas se continuarem com esse sentimento de “culpa” por elas estarem nessa condição.

O que você busca nessas pessoas retratadas?

TF: Acho que o ser humano em sua forma mais “pura”. Muitas dessas pessoas não fazem parte da sociedade há tempos, estão em contato direto com as necessidades básicas da vida o que sempre me levou a questionar o modo como vivo e o que eu realmente preciso para viver.

 

Como é a sua relação com elas? Como você construiu essa relação?

TF: Há um pessoal que me trata como se fosse um deles, da “maloca”  –  que é como eles chamam os grupos. Às vezes me oferecem marmita, não deixam algum morador de rua mais invocado ficar me questionando, defendem de “crackeiros”… Coisas do tipo. Eu também acabo me metendo em problemas quando vou defendê-los dos “crackeiros” (que agora, espalhados, viraram um problema fora da Cracolândia) que costumam roubar cachaça e comida dos mais velhos. Demorei quase um ano para conseguir chegar perto deles sem que me considerassem uma ameaça.

Existem muitos outros que conheço e não fazem parte de algum grupo. Uns nem moram na rua mas vivem pelo Centro. Tenho amizade com alguns artistas de rua, uns pastores, gente que foi expulsa da Cracolândia. Acho que para construir uma relação com essas pessoas é preciso olhá-los nos olhos. Muitos realmente se impressionam por serem tratados como humanos e não marginais.

 

 Essa foto [acima] foi feita no dia em que me “aceitaram” entre eles. Passei a tarde sentado no chão ouvindo histórias de um deles, que diz que lutou no Iraque, e acompanhados de uma cachaça intragável.

Acho que aconteceu naturalmente. Sempre procurei entender essas pessoas que vivem à margem da sociedade. Eu, pelo menos, nunca consegui ignorá-los como seres humanos. Quando comecei a fotografar notei que essa minha visão particular era uma chance de “humanizá-los” em um mundo que os torna invisíveis.

Você acha que a arte pode ajudar essas pessoas de alguma forma? Como?

TF: Acho que pode ajudar a mudar a visão que a sociedade tem. Vivemos uma “demonização” dessas pessoas. Não sei se podemos ajudá-los de outra forma, muitos gostam da situação que vivem e o que a maioria realmente quer é que a sociedade não os enxergue como coitados ou incapazes, mas, sim, como pessoas.

 

Você percebeu, ou lhe foi mostrado, alguma mudança na vida dessas pessoas a partir do momento em que você as “imortalizou” por meio das suas fotografias?

TF: O primeiro que fotografei, na primeira vez que saí com uma câmera na mão para fazer um trabalho de faculdade, o reencontrei anos depois, quando fui pela primeira fotografar com minha própria câmera. Nesse meio tempo ele começou a pintar telas e havia deixado a rua e virou artista plástico.

De resto sempre desaparece um ou outro. Normalmente a família vem e leva das ruas, ou eles arrumam algum trabalho em outra cidade. Meses depois eles estão de volta à mesma situação.

O que ainda falta no olhar do brasileiro em relação à arte e às críticas existentes nela?

TF: Falta um senso crítico maior. O brasileiro parece que não julga por si mesmo, ainda se consome o que a mídia oferece. Temos muitos artistas sensacionais que ainda não tem reconhecimento porque o que faz sucesso ainda é o que é escolhido e divulgado por uns poucos artistas antigos que muitas vezes parecem privilegiar o que “acham” bom, claramente de acordo com um gosto pessoal.

Isso parece estar mudando agora com as redes sociais, onde qualquer um pode divulgar seu trabalho sozinho.

 

Além desse segmento fotográfico, quais outros você realiza?

TF: Faço bastante Street Photography e tenho alguns outros projetos documentais começando a sair do papel. Como busco sempre me tornar parte do que fotografo e ter essa visão do lado de dentro das coisas, pode vir algo bem interessante por aí.

Confira mais trabalhos e conheça as inúmeras histórias que o Thiago Fogolin já ouviu e viveu, no site e pela fan page.

 

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