Cada postagem, um artista. Cada artista, um bairro. Cada bairro, uma história

Foto: Divulgação

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Acredito que cada ser humano tem o dom de expressar o que a alma sente por meio de seus talentos. Lulu Santos já dizia considerar justa qualquer forma de amor. Aqui na SOUL ART é quase isso, ou melhor, mais que isso. Também consideramos justa e digna qualquer forma de arte. De todas as artes, confesso que sinto um carinho especial pelo graffiti. E não me refiro só a aqueles expostos em galerias de artes (que são lindos também) e estão lá por merecimento. Mas, me refiro especialmente ao graffiti das ruas, a arte engajada das ruelas e sua origem.

Esse apelo poético-político do graffiti começou lá na década de 60 em meio ao movimento contracultural, quando os muros de Paris foram pintados com mensagens contra o sistema político da época e logo se espalhou pelo mundo em diferentes contextos. Aqui no Brasil a tinta e o spray deram voz à periferia esquecida pelo poder público. Se tornou o meio para expressar a desigualdade e escancarar a opressão vivida. Saiu do gueto e alcançou o status de obra de arte, o que é muito bom, mas ainda existem nomes que não foram revelados e esse é o nosso trabalho…

A partir de hoje, A SOUL ART apresenta a vocês uma série de entrevistas com grafiteiros de vários bairros da cidade de São Paulo. Apreciem!

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MENC

 

Ele vem lá das bandas de Pirituba, é corinthiano roxo, tem postura séria e um bom coração. Encontrou no graffiti o impulso que precisava para lutar pelo o que sempre acreditou. É comum encontrarmos nas suas manifestações artísticas desenhos abstratos, também referências ao governo e críticas ao atual sistema. MENC conta que está nesse corre a um tempo. O primeiro graffiti ficou ruim, mas acabou se tornando um estímulo para continuar tentando. Já foi autuado por pintar sem autorização, precisou prestar serviços comunitários e tirou dessa experiência uma das melhores lições que já teve na vida ao conviver com crianças carentes.

Confira a ideia que trocamos com ele:

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SOUL ARTQual o significado de MENC e como chegou a esse termo?

MENC –  Menc são siglas, Mudei o Estilo não a Cabeça. Me sentia preso. Sempre fazendo os mesmos trampos nas ruas, chamados no meio do graffiti como carimbos. Era sempre a mesma coisa, mas mesmo fazendo os carimbos, mandava uma mensagem de protesto de paz ou de guerra contra algo que incomodava, e na época quis me desprender desse estilo manjado ( carimbos ) e me soltar mais na arte. Aí veio na cabeça mudar o estilo, não me prender a algo nesse meio, sempre inovar. Mas a minha personalidade,  reivindicações e protestos são autênticos.

 

SOUL ART – Possui influências ou algum artista no qual se inspira?

MENC – Minhas influências eram os antigos graffiti´s das vielas perto de casa. Sempre admirei o grupo que assinava como ” Peraltas”, mas isso para lá de 1998. Também o fato do meu primeiro graffiti ter saído muito ruim, ajudou para que eu me superasse cada vez mais. Hoje busco usar traços que me identifiquem, faço letras, abstratos e não me apego a um estilo único. Tudo o que é novo, encaro como uma nova experiência.

SOUL ART – Qual o tipo de mensagem que você tenta repassar por meio dos desenhos?

MENC – A mensagem no geral é de liberdade de expressão, de fazer o que der na telha sem regras e frescura, mas dependendo do momento a mensagem pode ser mais objetiva tanto pra paz quanto pra guerra. Depende do atual momento.

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Por Menc e Sipros – Foto: Divulgação

SOUL ART – Houve um episódio no qual serviu para você reprovar ainda mais a atitude da PM, conta pra gente o que aconteceu. 

MENC – Eu e mais dois amigos grafiteiros fomos abordados pela PM. Estávamos tirando foto dos bomb´s, já finalizados, em um local que estava abandonado, prestes a ser demolido. Não tínhamos autorização para grafitar lá e quando a polícia chegou não tivemos direito a nenhuma conversa. Mesmo se tratando de um lugar abandonado, nos levaram para delegacia e fomos acusados de Crime Ambiental. Fomos intimados e condenados a pagar uma multa de R$500,00, cada um. O dinheiro era para ser depositado na conta de uma suposta creche. A lei nos assegurava o direito de cumprir serviços comunitários, mas essa alternativa não foi cogitada em nenhum momento. A intenção deles era “roubar legalmente” o nosso dinheiro.

Mas eu sabia desta opção, mencionei e no fim tivemos que prestar 48 horas de serviços comunitários. Eu e o Mandré fomos para uma creche no bairro, o Gesp foi para outra próximo de onde trabalhava, onde interagimos com crianças humildes, ensinamos atividades artísticas e eu aprendi muito com elas. Claro que não queria ter passado por isso, mas no final acabou sendo uma boa experiência. Alimentou meu pensamento e ampliou minha visão acerca do funcionamento desse sistema falido e me trouxe inspiração para desenvolver novos projetos nas comunidades.

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