Domingo. Estava lá naquela Avenida principal daquela grande cidade. Acabara de comprar meu quarto exemplar de coleção de minha Clarice Lispector quando a garoa paulistana resolveu dar um olá. Era domingo afinal. Outono, friozinho aparecendo em meio aos carros e bicicletas, e eu tirara o dia para caminhar.

Logo ali a frente um aglomerado de pessoas descoladas, com sorrisos de batom em meio a beijos de casais embaixo do guarda-chuva me perguntei “Mas essa fila é para que?”

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Vinicius Calderoni. E assim começou o fim do meu andar. Para quem não pôde ir, ontem (24/3) foi o lançamento do segundo álbum solo desse poeta que é cantor. O Toca Brasil é um programa criado pelo Itaú Cultural que busca disseminar a música brasileira, e ontem foi a estreia de Para abrir os paladares.

Depois de Tranchã (2005), esse novo álbum segundo o próprio Vinicius “é um disco de canções e canções têm uma força de comunicação como poucas outras formas de expressão artística.” “Gosto de pensar, então, que o resultado desse disco é algo entre o pop escandinavo e a canção brasileira − passando por tudo que há contido entre um polo e outro”*.

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Com cenário simples, e uma voz imponente do Calderoni ao fundo falando dos batimentos de um coração, você podia sentir que estava dentro da emoção do próprio Vinicius e que sim, “nós estamos mais vivos do que nunca e isso merece um brinde”.

Olhos se encheram d’água e muitas lágrimas escorreram. Não havia uma pessoa na plateia que não se emocionou com a dor das palavras de Chão de Estrelas (de Silvio Caldas) ou namorados que se abraçavam em Uma ligeira impressão. Até o Vinicius se emocionou diante do calor que emanava de sua música e dos corações de seu público.

Terminado o show, o momento do bis se aproxima e a plateia que já não se continha nas cadeiras e passava para um estado de plena felicidade do quero mais pôde respirar Mesmo quando a boca cala.

Vinicius, como você mesmo disse em show “Sozinho ninguém é nada”, mas se você acredita em coincidências, uma das coisas que aprendi com a Clarice “é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente” e não nos deixa sozinhos para abrir novos paladares.

Para quem não sabe a trilha Mesmo quando a boca cala foi composta pelo Vinicius Calderoni para a série Tudo que é sólido pode derreter (2009) da TV Cultura e o livro chave do episódio da referida música é Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres, que por junção dos astros colocou a atriz da série na minha frente da fila do show no dia em que eu comprei esse mesmo livro.

Foto Maria Birba

Foto Maria Birba

Não precisa debulhar em lágrimas caso você tenha perdido o show, pois o Vinicius Calderoni afirmou que tem novos shows agendados e pede para que o público continue indo, pois só assim esse músico pode compartilhar sua poesia e nos reencantar para o mundo de suas doces palavras.

 

Esse post é especial para a Mayara Constantino, que além de muito fofa me abriu mil possibilidades para felizes coincidências.

 

Mais informações:

http://viniciuscalderoni.com.br/

*http://novo.itaucultural.org.br/programe-se/agenda/evento/?id=67469

 

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