Ódio ao inconsciente? Esse palavra de forma comum, na primeira impressão ou interpretação ao ouvi-la, nos remete pensar em alguém que perdeu a consciência, bateu a cabeça e está desacordado ou voltou desse trauma e não se lembra mais de nada, certo!?
Digamos que o senso comum sabe mais de psicanálise do que imaginamos! De fato, o inconsciente para a psicanálise também está ligado a traumas, a não lembrarmos de quem somos, a sermos guiados pela (in)consciência que repulsa nossos desejos, reprime o acesso a essas informações e memórias mais profundas.
Mas, para entender o que é inconsciente é preciso, antes de tudo, compreender o conceito, a idéia básica para a psicanálise disso. Há uma famosa metáfora que julgo ser a melhor explicação do papel do inconsciente agindo na mente humana! Uma analogia comum para compreender o sentido psicanalítico do inconsciente na mente humana é a do ICEBERG! Como sabemos, a parte emersa do iceberg, aquela que fica visível fora d’água, representa apenas um pequeno pedaço de sua verdadeira dimensão. Sua maior parte está submersa! Assim funciona a mente humana. Aquilo que a gente entende como percepção da nossa mente é apenas a ponta do iceberg, o consciente. Enquanto o inconsciente é essa parte submersa que sustenta todo o conjunto e é maior do que a consciência, vale destacar.
Freud, Jung, Lacan, Anna, Winnicott, como tantos outros pensadores e pensadoras, nos deixaram algumas definições e maiores apontamentos, exemplos e conceitos, assim, mais definidos sobre o inconsciente e tudo o que o compõe. Porém, queria aqui expor algo mais específico sobre o papel do exercício geral do inconsciente em nossas vidas, de forma prática e exemplificada, como por exemplo, citando os mecanismos de defesa principalmente, daí do título polêmico desse artigo!
Sem mais rodeios então, afirmo-lhes o seguinte: temos ódio ao inconsciente!
O que já justifica logo de cara essa tese é a dificuldade que temos em acessá-lo, para emergir e entendermos suas informações mais íntimas. O segundo fato são as coisas cotidianas que, sem explicação prévia, expelimos sem ao menos conhecer ou “entrar em contato”! Aquela pessoa, aquele lugar, uma característica, um assunto, tal circunstância, um preconceito, enfim, fatores que nos levam ao julgamento prévio revelando mais do que somos ou reprimimos do que, de fato, queremos externar: “Como aquela fulana fala difícil, quer aparecer…” “O sicrano cumprimentou a todos, está forçando simpatia”. “Que ambiente mais esquisito, eu que não frequento”.
Certa vez, um professor realizou uma atividade muito interessante! Levou toda turma para uma exposição de artes e pediu para seus alunos escolherem uma obra da qual menos se identificavam. A explicação sobre isso, guiou a uma reflexão incrível! Um dos colegas de turma escolheu uma obra abstrata e disse que não via sentido numa tela com “tinta pincelada sem forma ou mensagem”, preferia algo mais específico, concreto, com representações de pessoas, animais ou lugares. Até aí tudo bem, mas todo “gosto” e opinião tem uma base e um lugar que a repolsa. Ou seja, ele não se identificava com uma obra cujo o artista optou pelo sentimento, pelo emprego da agressividade no acumulado de tinta ou ora a leveza em cores primárias, não quis saber do contexto, sobre o autor, o momento que o quadro foi feito, o movimento artísticos da qual pertencia a época, simplesmente, não se identificou, pois sua base emocional está ligada ao concreto, ao fato exposto, como um sujeito sentado no banco de um parque, numa representação bucólica, como num retrato, uma fotografia, entende?
Certa vez em outro artigo, pincelamos aqui rapidamente (com o perdão do trocadilho), sobre os mecanismos de defesa do inconsciente e como ele se revela nessas cenas do cotidiano, mas não aprofundamos tanto. Contudo, dessa vez vou acrescentar mais informações a nível de curiosidade ao tema! Porém, antes disso queria relembrar também mais um artigo que fala sobre a ação inconsciente, alguns de seus mecanismos de defesa, sobretudo, nas relações sociais e familiares, o artigo em questão se chama Sujeito Núcleo Catalisador (corre lá e lê esse também, vale a pena).
Voltando… Anna Freud escreveu teorizando que tais mecanismos de defesa do inconsciente existem pelo “medo” que temos. Medo do Ego de regredir ao estado inicial de fusão com o ID, na possível falha do Superego na tarefa de reprimir os impulsos… O que!? Como assim!? Peraí, deixa eu voltar um pouco!
O ID é a nossa impulsividade (movido pelo princípio do prazer), o Ego é a nossa realidade, ligado ao nosso contexto (enquanto o ID é guiado pelo princípio do prazer, o Ego se baseia no princípio do que é real, uma espécie de mediador entre a impulsividade do ID e as condições externas) e o Superego é a moralidade, como um freio, as “regras” (já vimos as instâncias guiadas pelos princípios do prazer e da realidade, agora trata-se daquela que segue o que poderíamos chamar de “princípio do dever”, o que “não podemos fazer” nem a pau).
Entretanto, o objetivo deste artigo, como citei anteriormente, não é passar conteúdo com teor acadêmico sobre psicanálise e o inconsciente! A ideia é expor como ela se faz presente mesmo quando não queremos… Na verdade, não queremos mesmo, odiamos nosso inconsciente e tudo que nos leva a ele, sejam pessoas, situações ou ambientes (como se ver no espelho sem estar arrumado. Quem gosta? Nosso inconsciente é o desajeitado frente ao espelho e a consciência é aquele filtro de rede social ou uma “make”, percebe?). Aqui, em um breve recorte de pesquisa, colocamos os mecanismos de defesa que temos para não acessar nosso inconsciente, como o próprio nome já diz, para nos “defender” desse acesso, listamos abaixo:
Repressão: movimento que o Ego realiza para rebaixar conteúdos dolorosos (sejam ideias, afetos ou desejos) da consciência para o nível inconsciente;
Negação: consiste na recusa de aceitar a realidade que incomoda o Ego;
Deslocamento: consiste na transferência de um impulso para outro alvo considerado menos ameaçador;
Racionalização: é um processo pelo qual a pessoa elabora desculpas ou razões lógicas para tentar justificar comportamentos, pensamentos ou sentimentos inaceitáveis;
Compensação: mecanismo de defesa utilizado para encobrir uma fraqueza através da atribuição de ênfase à outra característica mais desejada ou aceita;
Formação reativa: é o que tende a inverter o impulso indesejado, substituindo-o pelo seu oposto. Exemplo: a pessoa “prega” a moralidade extremamente puritana, mas é totalmente entregue ao contrário sem sua exposição;
Projeção: talvez este seja o mais famoso mecanismo de defesa! Trata-se do responsável por atribuir aos outros conteúdos psíquicos que são da própria pessoa;
Isolamento: consiste em separar um pensamento, recordação ou afeto de outros associados a isso, em determinado evento/fato, de modo a minar ou fazer com que nenhuma reação emocional ocorra;
Anulação: busca cancelar ou desfazer uma ação/sentimento indesejado de forma “simbólica” através de outra;
Introjeção: é o mecanismo de defesa responsável por integrar elementos de outro indivíduo a estrutura do Ego;
Regressão: é ele o responsável por fazer o ego retornar a um estágio anterior de desenvolvimento;
Fixação: ocorre quando uma pessoa, em seu desenvolvimento, não progride de maneira normal, parando parcialmente em uma fase do desenvolvimento. Usamos muito a frase “fulano está fixado nessa ideia”!;
Sublimação: é o mecanismo de defesa responsável por redirecionar a energia de um impulso para outra atividade socialmente mais aceitável ou desejável (a exemplo do impulso de um cirurgião a cisão operatória);
Supressão: é o bloqueio consciente e voluntário de sentimentos e pensamentos desagradáveis;
Identificação: ele é o responsável por aumentar o valor do ego através da aquisição de características de um sujeito referência (admiração).