“Meu lindo, hoje quero uma daquelas noites típicas! To inspirado hoje! Juçara Marçal e Ceumar me mostraram ontem o modo de vida que quero ter!” foi a mensagem que chegou em meu celular na noite de sábado, 21 de março. O cabra se referia ao show que assistiu na noite anterior, no auditório do Ibirapuera. Além das referências de Ceumar, Juçara apresentara faixas com a mesma pegada de seu primeiro álbum solo, Encarnado (2014), no qual a evocação de temas como a morte e as guitarras distorcidas o tornam experimental e forte, e era isso que encantava meu amigo.

A apresentação integra o vanguardista circuito do auditório, que ainda receberia mais três divas no domingo (22): Céu, Tulipa Ruiz e a francesa ZAZ. Show que faz parte do Circuito São Paulo de Cultura 2015, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura, que leverá mais de 500 atividades gratuitas a 40 pontos da cidade.

ZAZ, Céu e Tulipa Ruiz

Buscando meu próprio modo de vida atravessei a passarela que liga o MAC ao Ibira para conferir a cantoria das meninas. Skatistas de toucas, sem camisa, ar severo, desfilavam com seus carrinhos sob o tímido sol de março. Ao seu lado negras gatas, jeans rasgados, bocas vermelhas, felinos olhares que nos esnobam e nos fazem crer no modo de vida que queremos ter.

face tulipa

Enfim a música me alcançou e em instantes pude ver Céu labutar nas canções de seu terceiro e último álbum, o Caravana Sereia Bloom (2012). A musa ainda cantou algumas do segundo álbum, Vagarosa (2009), e do clássico Catch a Fire, do seu ídolo Bob Marley. Ótimo ver e ouvir ao vivo as faixas do Caravana, um dos melhores discos brasileiros lançados nos últimos anos. Aqui várias nuances do rock e do reggae se fundem num som único e natural. É como se pegássemos a Rio-Santos na caçamba de um caminhão embriagados pelo sol e pela maresia; não por acaso umas das inspirações do disco é o road movie Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. Faixas como Falta de Ar e Asfalto e Sal me tentam a morar na praia. Céu ainda elogiou a iniciativa da Secretaria Municipal, que ao criar atrações gratuitas em espaços públicos gera público democrático. E de fato o público heteregêneo foi um dos pontos altos do evento. De hippie a skatista, todos dividiam o gramado da área externa do auditório do Ibierapuera em harmonia.

Tulipa

Em seguida foi Tulipa Ruiz quem subiu ao palco para apresentar canções de seus dois álbuns, Efêmera (2010) e Tudo Tanto (2012). Sua apresentação ganhou força com seu estilo performático, o qual a permite, por exempo, se enrolar no cabo do microfone para cantar a esquizofrênica e bela Só Sei Dançar Com Você. A empogação também tomou conta quando Efêmera, uma das mais conhecidas de seu repertório, foi cantada.

ZAZ

ZAZ, a francesinha mais aguardada de domingo, fechou o espetáculo. A resposta foi impressionante: por mais que a cantora tenha surgido ha não muito tempo e que suas músicas sejam conhecidas ha menos tempo ainda no Brasil, todos se enlouqueciam e sabiam todas as letras. A francesa já tem três álbuns, ZAZ (2010), Recto Verso (2013) e Paris (2014). Sua apresentação começou com ritmos que lembravam o já desgastado indie, e até mesmo o pop, mas quando entrou no jazz mostrou a que veio. É nesse tom que Je Veux nos faz entender porque é sua composição mais conhecida. A letra também não fica por baixo, e confirma a pegada social mencionada por Céu e que deu o tom de domingo: “Me dê uma suíte no Ritz, eu não quero! Joias da Chanel, eu não quero! Me dê uma limusine, o que é que eu faria? Não é o dinheiro que me trará felicidade”. Pode ser idealista, mas combinou direitinho com o público que estava naquele domingo no Parque Ibirapuera.

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