O duo Espullmatic$, formado por Malokero Anônimo e Arnaldo Tifu, em parceria com Rappin’ Hood, lança single e clipe de “Trabaiano” numa crítica ao olhar depreciativo da sociedade para o trabalho de artistas independentes 

 

A profissionalização de artistas independentes sempre foi uma dificuldade sob o olhar da sociedade, que julga músicos e demais expressões de artistas como menos esforçados em buscar ocupações formais – que impossibilitam o desenvolvimento de sua profissão. 

Sabendo desta dificuldade, agravada pelo cenário pandêmico que vetou espetáculos, principal fonte de renda de músicos, o duo Espullmatic$ (formado por Arnaldo Tifu e Malokero Anônimo) e Rappin’ Hood lançam o single com clipe de “Trabaiano”. Quem assina a produção é Miyagi Beats. 

A letra da música fala sobre o cotidiano dos artistas independentes em meio aos contratempos de se manter em produção durante a pandemia, com todas as restrições de aglomerações e encontros. A batida faz jus àquele RAP estilo hardcore e as rimas dos MCs foram cuidadosamente compostas para expressar sua crítica ao preconceito direcionado à classe artística. 

Em trecho que compõe parte do refrão, “Trabaiano” fala claramente sobre a visão que a sociedade direciona aos artistas, imaginando que “estar de role com os mano”, por exemplo, não faz parte das suas atividades profissionais.  

Segundo Malokero Anônimo, “nós artistas realmente independentes lidamos com o preconceito da sociedade e a dúvida da maioria daqueles que estão ao nosso redor o tempo todo. Cabe a nós revertermos esse quadro através do nosso próprio trabalho e de nossas atitudes” 

A música se faz muito importante neste momento, principalmente pensando em artistas de gêneros musicais que já são subjulgados com adjetivos depreciativos como vagabundos, preguiçosos ou criminosos. Muito pelo contrário: o RAP é ferramenta da periferia para tirar jovens e sonhadores das armadilhas do crime. 

Trabaiano

Videoclipe de Trabaiano produzido pela REALI7E Records 

O clipe de “Trabaiano” foi roteirizado e produzido pela equipe da REALI7E Records, formada por Diego Davi (Coletivo Econsciencia) e Gabriel Alexandre (SOUL ART). O roteiro foi pensado de forma que pudesse ilustrar a rotina dos artistas, retratada na letra da música. 

Como plano de fundo, o vídeo foi gravado no Heliópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo. “A escolha das locações foi feita justamente para ambientar a realidade dos artistas de periferia”, comenta Gabriel Alexandre, diretor audiovisual do projeto. 

 

Sobre Espullmatic$ 

Eles tiveram seu primeiro contato musical em 2014 no projeto Kombi do RAP, idealizado pelo rapper Liu MR. A primeira parceria em estúdio surgiu através do grupo Avante O Coletivo em “Celebrai 2”, o que rendeu a amizade e a participação de Tifu no álbum Gênesis de Malokero em 2015. 

A dose de espullmância se repetiu no EP #RAP1997 do Arnaldo Tifu mandando “O RAP Salva”. Porém a parceria ficaria mais consolidada após o rapper Thaide pedir a indicação de um MC para fazer parte de sua equipe pra somar nas dobras de vozes em apresentações ao vivo, quando Tifu ficou encubido dessa tarefa e indicou Malokeiro Anônimo que aceitou o convite. 

Com estilos diferentes, porém semelhantes, a dupla Espullmatic$ traz renovação clássica no cenário atual. Espullmatic$ é uma filosofia, o nome criado para significar o ato de fazer RAP com amor, primazia e atitude a ponto de espumar de tanto rimar. 

A junção da palavra espuma com o nome do álbum Illmatic (1994) do rapper norte americano Nas. Com letras inteligentes, rimas ricas, incisivas e instrumentais que passeiam por variados ritmos misturados ao bom e clássico RAP, contemporâneo, acessível para todos. A dinâmica dos sons em tempos de mesmice sonora faz a diferença pros assíduos ouvintes. 

 

Sobre Rappin’ Hood 

Rappin’ Hood se destaca por ser uma das principais vozes do RAP nacional, atuando como rapper, radialista, apresentador, produtor musical e ativista social. A inovação e a tradição andam juntas para o músico, que abriu espaço no cenário nacional com a canção Sou Negrão, lançada com seu grupo Posse Mente Zulu, na ativa desde o início dos anos 1990 e sempre atento à temática social. A faixa, cantada com Leci Brandão, trata com leveza das pesadas questões da marginalização negra e faz mistura com o samba, uma revolução para o RAP ­purista de 2001, ano em que lançou seu primeiro disco, Sujeito Homem 1. 

Atualmente Rappin’ Hood comanda um programa na rádio Transcontinental. E nunca deixou de se dedicar a trabalhos sociais, como oficineiro do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca), no bairro do Ipiranga, na capital paulista. A ousadia de explorar as possibilidades no hip hop sempre acompanhou a preocupação de não se afastar das raízes e do comprometimento do movimento. Sua estreia como radialista, com o programa A Voz do RAP, foi na rádio comunitária que ficava na favela de Heliópolis. 

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