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Meu primeiro contato com histórias em quadrinhos deve ter acontecido com algum gibi do Maurício de Sousa. Meu personagem preferido, entretanto, sempre foi o Zé Carioca. Ao lembrar das aventuras do malandro papagaio, consigo sentir o clima do Rio de Janeiro e escutar a batucada de fundo. E já era assim naquela época. Descobri ali um modo de viajar para outros universos, mesmo antes de ler o primeiro livro, ou escutar o primeiro disco.

O hábito havia sido abandonado na infância, até este ano. Graças a um amigo que me apresentou a obra-prima de Art Spiegelman, Maus (descrito aqui), tive o meu segundo “primeiro contato” com as histórias desenhadas. Os traços do autor me levaram para os gelados campos de concentração nazistas, onde mais do que leitor, fui testemunha do sofrimento dos judeus ali retratados. Nenhum livro de história havia me ensinado daquela forma. O que era coisa de criança para mim, mostrou-se um horizonte atrativo, e me convidou para mais uma leitura.

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Do mesmo camarada veio Notas sobre Gaza (2010), do jornalista meio americano, meio maltês, Joe Sacco. Mais uma vez o povo judeu estava no centro da história. Dessa vez, porém, fazendo outro povo sofrer: os palestinos. No livro, Joe Sacco vai até a Faixa de Gaza fazer uma investigação sobre dois massacres ocorridos em novembro de 1956, nas cidades de Khan Younis e Rafah, onde centenas de civis foram executados sem explicações convincentes.

Desenhista de traço limpo, Joe Sacco traz em Notas sobre Gaza praticamente um registro fotográfico de sua estadia. Mais do que isso: as páginas vão passando como cenas de um filme. O autor, que já havia escrito sobre outros conflitos, como a própria situação do país árabe, em Palestina, as mortes em Saravejo no livro Área de Segurança: Gorazde, e na antiga Iugoslávia, em O Mediador, conta em Notas outra história que o mundo não conhecia, cumprindo à risca a função do jornalismo. Fugindo da ficção, Sacco confronta depoimentos, e encerra o livro trazendo uma série de documentos oficiais que narram os episódios de 1956.

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Os dias do jornalista em Gaza não nos mostram apenas o passado, mas retratam a sociedade palestina de hoje vista por dentro, e as motivações de um conflito que parece estar longe do fim. Ao entrevistar testemunhas de dois episódios tão antigos, Joe Sacco se depara muitas vezes com a indagação: “por que falar sobre Khan Younis e Rafah se hoje ainda morre gente do mesmo jeito?”. A mescla entre o passado e o presente, entretanto, ilustram o lado palestino da história de forma compreensível. Notas sobre Gaza é uma leitura urgente para se entender a guerra ali travada, a questão do “terrorismo” e a situação política do mundo atualmente. Não deixe de ler!

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