Quem viu o show comemorativo de dez anos do Babylon By Gus na semana passada em São Paulo sabe que vale a pena perder umas horinhas de sono pra contar o que aconteceu por lá. E, se não viu, um gostinho de leve pra você sentir o drama:
“Há 13 anos, nos Estados Unidos, caíram as torres gêmeas e três anos depois uma torre aqui no Brasil começou a ser construída. Essa torre se chama Babylon By Gus, anunciou o MC Rodrigo Brandão antes de chamar ao palco seu amigo há 23 anos Black Alien, seu parceiro e Alexandre Basa e DJ Castro para dar início aos trabalhos com Mr. Niterói. Porra, eu tinha 14 anos quando o Gustavo lançou esse álbum e até hoje ele influencia tanta gente… Da quebrada ao colégio particular, do rolê de carro ao goró na rua. O público mostrava bem isso: todo tipo de galera, além de presenças ilustres como Kamau, Fióti e Sombra, colou no Cine Joia pra assistir a uma inédita execução na íntegra do disco clássico do rap nacional.
Com uma cara saudável, o protagonista da noite cantou acompanhando pela plateia o tempo todo. Depois de Como eu te quero, um cara que tava do meu lado com a namorada vira pra mim e diz: “pedi minha mina em casamento com essa música”. Os dois estavam em sintonia com o clima que Black Alien ditou pra noite: muito amor. Em diversos momentos, o Filho Pródigo honrou o apelido e distribuiu mensagens sobre espiritualidade ao público. Deu até água pra plateia, dizendo que queria chegar a ser avô e bisavô. “Eu tive que parar pra tratar da barriga, do fígado, do pulmão e do cérebro, pra fazer um disco a altura do que vocês merecem, e eu mereço também”, justificou entre uma música e outra. Valeu a pena.
Depois de From Hell Do Céu, uma pausa estratégica e um retorno pro palco cheio de novidades. Na inédita “Terra”, que abriu o bis, Black Alien pede desculpas pela demora do novo album e fala sobre informação, fé e melodia — que parecem mesmo ser os motes principais do aguardado vol. II de Babylon By Gus. Depois, já rouco, apresentou ainda mais três músicas ainda desconhecidas do público, Identidade — gravada entre 2009 e 2010, período em que foi assassinado Speedfreaks, amigo e parceiro de longa data, onde o rapper mostra um lado mais obscuro e próximo de seus antigos trabalhos –, Homem de Família, com um título bem autoexplicativo, quase uma continuação madura de Como eu te quero e outra com levada romântica, Somos o Mundo. Completaram a session final duas pedradas das antigas: Sua Cara Em Contra Mão, com Speed e Na Noite se Resolve, parceria com BID no lindo álbum Bambas & Biritas, de 2004.
No fim das mais de duas horas de apresentação, subiu ao palco Wanderson Sabotinha, herdeiro de Sabotage, outro parceiro de Black Alien covardemente assassinado. Os dois entoaram junto com a fiel plateia Um Bom Lugar, um final apoteótico pra uma noite emocionante pra quem, como eu, cresceu conhecendo os truques por trás dos batuques e os vilões por trás dos violões graças a Gustavo de Nikiti, um sobrevivente que parece estar só começando. “Vão em paz, cuidado com a polícia e cuidado com vocês mesmos, principalmente” — é assim a despedida. Amém!
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