O projeto FAVELARTE por Thiago Nascimento faz uma etnografia da atmosfera de quem vive à margem da sociedade, apresentando a arquitetura de lugares que muitos não frequentam, através de uma visão singular aliada com toda sutileza e beleza existente na periferia de São Paulo. Favela é assim, favela é arte.
Thiago Nascimento da Silva, filho de nordestinos, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1992, na cidade de Mauá (SP). Durante a infância, viveu na comunidade do Areião localizada no km 26,5 da Rodovia Anchieta e atualmente reside na cidade de Santo André (ABC Paulista).
Em suas principais influências, podemos encontrar o trabalho do fotógrafo Evgen Bavcar, deficiente visual que ultrapassou os limites impostos pela sua condição, e Leonardo Duarte, ex morador de rua que encontrou a fotografia como instrumento de transformação social.
Salve Thiago, na paz?! Conta pra gente… como foi o seu primeiro contato com o mundo da fotografia?
Salve Gabriel! Meu primeiro contato com o mundo da fotografia foi quando era pivete e morava na favela do Areião. Era fim de tarde e fui para a varanda ver o magnífico por-do-sol. No mesmo momento rolou um toque de recolher por parte da polícia que estava procurando alguns bandidos, corri para dentro de casa e peguei uma câmera fotográfica digital que minha mãe acabara de comprar para registrar esse momento. Eu era muito jovem mas tenho muita clareza desta lembrança.
O que a fotografia representa hoje para você em sua vida?
A fotografia é minha vida. Atualmente não sei se conseguiria viver sem ela. Também acredito que Da Vinci não conseguiria viver sem um lápis
Quais as principais dificuldades que um fotógrafo independente enfrenta para concretizar seus projetos e trabalhos nos dias de hoje?
Para começar, os familiares não botam fé no que faço por não ser registrado e não ganhar aquela quantia adequada para sobreviver no atual sistema em que vivemos. Casas de shows, produtores e até mesmo alguns projetos não dão valor para arte fotográfica, e com a tecnologia cada vez mais atualizada, surgem fotógrafos que, costumo chamar de anti-profissionais, ou seja, eles cobram metade do valor ideal e as vezes não cobram nada só para não perder o trampo. Serviços que em sua maioria são de qualidade duvidosa, não digo que se deve cobrar sempre, porque também existem eventos sociais nas ruas os quais faço gratuitamente com a maior satisfação, para o bem comum. A maior dificuldade seria esta, não ser bem remunerado pelo que faço, mas que fique claro também, faço porque amo, assim como padeiro faz seu pão com amor, a matéria prima tem um custo e tem que ser cobrado!
Qual a mensagem que você quer passar com os seus registros urbanos?
A mensagem é clara, retratar o contraste social que o sistema nos conduz. O aspecto ou o nome favela / comunidade / gueto, nestá infiltrado no centro da grande São Paulo, isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Por sermos um povo rico em cultura e por sermos enraizados com a militância diária que somos submetidos.
Descreva qual a sensação ao clicar as fotografias que formam a exposição FAVELARTE.
São denúncias das condições em que nosso povo vive, alguém em algum lugar daquela região já sofreu consequências do descaso governamental que gera classes econômicas distintas, podemos imaginar que chegamos no limiar, mesmo em meio as dificuldades, na favela existe cultura, manifestos, uma peculiar arquitetura e projetos sociais onde muitos moradores lutam por melhorias para comunidade, para que mais pessoas possam levar uma vida digna.
O que tu andas aprontando agora? Quais teus planos para o futuro?
Atualmente estou trabalhando também em produções audiovisuais entrelaçadas com a fotografia, quero dar continuidade com a exposição FAVELARTE, a qual inicialmente fui convidado pela SOUL ART (e sou eternamente agradecido). Viso levar o projeto também para as cidades e periferias brasileiras e quem sabe mundo a fora.
Para encerrar, deixo o espaço aberto para concluir esta entrevista com uma ideia para geral…
“Narciso morreu afogado porque não compreendeu que entre ele e a imagem existe a água. Eu sei que entre eu e a imagem há o mundo, há a palavra dos outros, uma grande distância. Para mim, as imagens existem também através do olhar dos outros, que me falam, que me trazem, que me permitem ver.” – Evgen Bavcar
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