“Filho novo, pai babão”. Assim Lenine se refere à relação que mantém com sua mais nova cria, Carbono, álbum lançado pelo artista pernambucano em maio deste ano e que foi batizado em Santo André, no palco do Clube Atlético Aramaçan, no último sábado, 5 de setembro.
Tomam parte na criação do álbum junto com Lenine outros dois produtores, três coprodutores e vários compositores, que foram convidados para dar o que ele chama de “relevo sonoro” ao trabalho.
“Carbono foi feito a muitas mãos. Esse coletivo deu ao projeto uma multiplicidade de referências, muito além de uma fusão de gêneros. O que eu quis foi reunir essas pessoas, num dado espaço de tempo, para contar uma história e registrá-la”, conta Lenine ao SOUL ART.
Mesmo com tantas nuances que surgem do agrupamento das várias cabeças que construíram Carbono, há uma força que une todo o trabalho. “Há um ponto em comum que talvez venha do início da composição, que é muito solitária. Sou eu, sozinho, com meu violão como extensão de mim. Essa é a base para construir todos os arranjos”. E é desse elemento único que surge a vida. Posso estar falando de Lenine, ou de Carbono.
O álbum pratica com frequência uma reflexão sobre o pequeno, o interior, o frágil e o pessoal. Na arrebatadora canção Castanho, que inaugura o disco, o verso “ser em par” sintetiza a ideia de comunidade, tão forte nos rincões do país, grifada pela viola sertaneja que dá à música uma beleza nostálgica, de tempos mais simples e mais afáveis.
Nessa toada, destaca-se também a canção Quede Água, que fala sobre o revide da natureza à arrogância humana. Ainda que trate de um tema amplo, Lenine parte do ponto de vista pessoal. “Meu trabalho é uma crônica da minha vivência. E ‘não deixo a vida me levar’, eu estou sempre atento, com orelhas de morcego…”, aponta o compositor, ao citar um trecho de Em Quem Leva a Vida Sou Eu, Lenine parafraseia Zeca Pagodinho e subverte sua máxima famosa: “deixa a vida me levar”, rebatida pelo recifense em tom descontraído.
“Eu não deixo a vida me levar, não. Eu não sei para onde ela vai. Eu prefiro levá-la junto, aqui, ao meu ladinho”, diz o artista.
A faixa três é uma crônica: Fim de Noite em Recife, segunda de carnaval. Tudo está escuro e em silêncio. À Meia Noite dos Tambores Silenciosos é “quase uma oração”, segundo o próprio cantor. Ele e seu parceiro de composição nessa faixa, Carlos Rennó, homenageiam a celebração de todas as nações do Maracatu no Pátio do Terço, local de importância histórica, religiosa e cultural para os recifenses.
Grafite e diamante é uma canção que estende o sentido do título do álbum para as relações humanas. Fala sobre duas pessoas feitas da mesma essência, mas com comportamentos tão distintos. O trabalho é uma teia de referências musicais, sincretismos e identidade cultural. O trabalho fortalece a imagem de Lenine como um dos grandes artistas da MPB.
Fotografias por Gabriel Alexandre.
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