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É evidente que os problemas brasileiros não terminam todos, magicamente, com esse ouro do futebol sobre a Alemanha. Continuamos vivendo em um país que acabou de sofrer um golpe de Estado para ser dilapidado e vendido – para grupos de fora e de dentro das fronteiras nacionais – e que, para tanto, vai “precisar” retirar boa parte dos direitos historicamente conquistados por quem produz as riquezas desse lugar.

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Mas…
A despeito de nosso gravíssimo drama político-econômico atual, temos outros obstáculos colossais a serem superados e é fundamental notar que todas essas dificuldades estão de algum modo interligadas. Uma das maiores infelicidades de nossa História, indubitavelmente, é o nosso quase invencível complexo de vira-latas, intimamente associado a uma incapacidade de deixar de ser colônia (talvez mesmo um desejo de ser colônia para sempre) e a um eurocentrismo obsessivo-compulsivo, que promovem, muitas vezes de modo inconsciente, uma espécie de racismo cultural invertido, nos rebaixando implacavelmente como povo – porque nos impede de enxergarmos com precisão a realidade e, consequentemente, de compreendê-la e de crescermos dentro dela.

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E é aqui que pode vir a assumir papel central a primeira vitória olímpica do futebol brasileiro, e em cima da dona do 7×1, no Maracanã, que, mais do que consumar uma revanche, produz contornos de redenção – e não apenas no âmbito esportivo. É a morte do 7×1? O seteaum, que se tornou um substantivo, um fantasma, um coringa às avessas, uma coisa em si que transcende às questões futebolísticas e que urrava Sim, somos lixo! Somos lixo! a cada segundo, por aí. Claro que não significará o fim definitivo da nossa vontade crônica de inferiorizar a cultura brasileira e o povo brasileiro, mas pode se remover, a partir de agora, aquela excrescência boçal, aquela camada mais doentia de maniqueísmo visceral que não parava de recitar que a Alemanha (a Europa) é o centro do universo e que o Brasil é o fracasso absoluto – e que, portanto, detinha e apregoava a mais cega fé na desgraçada premissa de que o modo de ser alemão (ou europeu) é o único caminho possível para uma nação; e o modo de ser brasileiro, um engano execrável.

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E a prerrogativa mais urgente dessa eventual mudança de percepção coletiva deveria dizer respeito justamente ao que vem sendo feito com os rumos do país. O povo brasileiro (digo o povo mesmo, não suas instituições mais poderosas e influentes) precisa entender que é capaz, que pode tomar as rédeas de sua terra nas mãos, resgatá-la como nação e dizer não à usurpação do nosso verdadeiro ouro – os nossos mais valiosos recursos naturais e os nossos direitos como trabalhadores que constroem diariamente esse país. Não desistirmos da ideia de sermos dignos sendo o que somos. Mais do que uma catarse para a autoestima, é uma oportunidade para, como sujeitos históricos donos do próprio destino, repensarmos nossa mentalidade inconsequentemente derrotista e pateticamente submissa, e, como lição, reivindicarmos questões muito mais sérias e úteis do que o culto ao Neymar. Os setores progressistas de nossa sociedade estão dispostos a encarar essa decisão, ou vão confortavelmente ficar no carcomido e inócuo mimimi futebol ópio do povo?

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