L’apollonide é um filme que cresce a ponto de alcançar o grotesco e o surreal, para então desmoronar na luz vermelha que se apaga, e que não significa o fim do sofrimento. Da sensualidade ao drama da prostituição, uma direção de arte e fotografia intimistas, com palheta que quase não varia do verde/azul escuro ao negro, exceto no branco da pele e da seda, e no vermelho que vez ou outra transborda no figurino. Sensual, introspectivo e melancólico, L’apollonide esbanja uma trilha de força incrível, contrastando com (ou expondo) a ordem mecânica da lascívia fingida e maquiada – tudo com um único objetivo: viver o mundo sem a prisão do sexo, que antes visto como passaporte para uma vida melhor, tornou-se o massacre definitivo da vida. E quando toca Les Moses, altíssimo, a sincronia da letra com o filme não deixa de chocar.

As personagens, por não possuírem uma personalidade singular, partilham entre si os sofrimentos e se tornam identificáveis apenas, tanto ao espectador quanto ao homem que as compra, pelo corpo e “atuação”. Um vazio psicológico e sentimental (apenas aparente) que transcorre pelo filme na violência física, no desrespeito despreocupado, no preconceito científico; em suma, na relação de trabalho, muito bem explorada pelo diretor Bertrand Bonello, que não tem medo do tema polêmico.

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