O percurso e a experiência cosmopolita de um arte-tatuador brasileiro que ganhou o mundo e hoje tem um estúdio de prestígio na Alemanha
Quem é Japa Indi, tatuador brasileiro que está marcando a pele de tantos alemãs? Confira neste artigo!
A tatuagem é um momento de encontro, um pacto de confiança entre tatuador e tatuado para se imprimir na pele o que se deseja permanente. Não é um encontro fugaz sem significado, pois o tatuador é responsável por fazer o melhor para corresponder à expectativa do outro com sua técnica e sua arte. Cabe ao tatuador materializar o desejo, nem sempre exato e consciente do cliente, sem deixar de imprimir também sua marca autoral ao que tatua.
É esse trabalho artístico que desenvolve Japa Indi, nome artístico de Wellington Pereira da Silva, tatuador brasileiro nascido no ABC-Paulista e que hoje mora em Aachen, Alemanha.
Japa Indi começou na carreira de tatuador rabiscando desenhos aos oito anos numa carteira escolar de escola pública ainda menino. Iniciou um diálogo através de desenhos com alunos de outro turno, completando de manhã os desenhos que lhe mandavam a noite. Nunca conheceu seus autores, pois a escola o puniu com suspensão por rabiscar objetos da escola.
O nome Japa Indi nasceu de um equívoco. Por possuir traços orientais recebeu o apelido na Japa infância, quando na verdade – conforme sua contaram seus pais, – os traços vinham de antepassados indígenas, que estavam na raiz da família.
O apelido Japa pegou e ele acrescentou o Indi artisticamente, já que ele foi se aproximando da religião xamânica – a Ayahuasca, – prática religiosa cujas raízes são a cultura milenar dos povos das florestas.
Seus pais haviam migrado de outras regiões mais distantes e rurais do país para Mauá, buscando melhores oportunidades de vida. Nascido em 1991, seu gosto pelo desenho veio aos seis anos.
Por volta dos dez anos, teria suas primeiras aulas “formais” de desenho num projeto social ligado a uma ONG e realizado no barracão da escola de samba Ordem e Progresso, localizada no Jardim Zaíra. Nesse espaço, começou também a fazer grafites e “street art.”
Como a realidade dos jovens brasileiros das periferias brasileira, aos 15 anos, Japa Indi começou a trabalhar para ajudar na renda familiar. Um de seus primeiros empregos foi em loja de roupas. Neste período, através de colegas de trabalho, descobriu a arte marcial Ninjuntsu/Ninpō que começou a praticar e que o aproximou também da cultura e filosofia oriental.
Depois de apresentar desenhos aos colegas de tatame, foi convidado para fazer um grafitte na academia. Um amigo o apresentou para o pai que era tatuador. Depois de mostrar seus desenhos, ele se tornou aprendiz do estúdio e começou a fazer suas primeiras tatuagens. Foi amor à primeira vista, pois descobriu que poderia viver com aquilo que mais gostava de fazer, desenhar.
Ao longo de mais de uma década, foi aprimorando sua técnica em diversos estúdios. Já tinha tatuado para grandes estúdios de Brasil e participado de convenções de tatuagem, quando – por meio de postagens no Instagram, – foi descoberto e convidado pelo Studio Way Ink tatoo, em Aachen, para trabalhar durante uma temporada. Resolveu meter as caras. Entrou em contato com um amigo do Ninjutsu que ele sabia que estava morando na Áustria, país vizinho da Alemanha, juntou um dinheiro que tinha e comprou uma passagem para lá.
Passou um período trabalhando no Desire Tattou, em Passau/Áustria, onde foi hospedado por um amigo brasileiro. Executou a partir daí trabalhos em diversos estúdios: All Ink, Exclusive Ink, Next Level Ink (Passau), Johnny Benning (Holanda), Tatoo (Suiça). Após um período em Portugal, onde trabalhou em Lisboa (Blessed Ink Lisboa – Família Amorim) e no Porto (estúdio Black Heart Tattoo), retornou com a esposa e a filha à Alemanha e, com a mudança do ex-sócio para Suíça, assumiu o estúdio antigo. Hoje, vive em Aachen, na Alemanha, e dirige seu estúdio Imperial City Tatoo.
Quanto ao seu modo de tatuar, ele mescla uma série de estilos, técnicas e influências aprendidas em quinze anos como tatuador nos 25 estúdios onde trabalhou ao longo da vida. Hoje, ao analisar sua forma de tatuar, conclui que seu desenho se filia à tradição dos artistas tatuadores mexicanos (Tattoo Chicana). Seu estilo é caracterizado – no desenho/traço – pelo hiper-realismo e minimalismo cromático “black and grey”, técnica que faz uso do preto e variações em cinza. Realiza também trabalhos em cores com fusão de várias técnicas que permitem produzir o efeito de aquarela.
No realismo fotográfico de seus desenhos, ele reconhece a influência de pintores renascentistas e barrocos (sua paixão pelo “chiaroscuro” de Caravaggio é evidente); bem como o Surrealismo de Salvador Dali e diversos artistas latino-americanos que uniram a cultura mística local ao surrealismo. Aprecia produzir imagens tridimensionais que se aproximam da ilusão de ótica. Quando trabalha em cores, uma referência importante para Japa Indi é também John Singer Sargent, pintor a óleo e aquarelista italiano.
Os temas das tatuagens que apresenta aos seus clientes tem forte raiz na tradição da tatuagem latino-americano e com toda a iconografia cristã, indígena/xamânica e afro-brasileira (santeria, candomblé etc.). Ele tem interesse também na cultura hip-hop, no graffite, no cyberpunk, no afro-futurismo. Para Japa Indi, “tatuar é reverenciar, é pôr na pele os afetos: familiares, amores/amantes, pets, deuses, crenças, alegorias.” Acredita que as melhores tatuagens nascem da boa sintonia entre tatuador e tatuado.
Tatuar é expor vivências, exteriorizar relatos, materializar em forma de desenho e textos, as experiências íntimas de quem busca seu trabalho.
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