Inez e Vinoodh são artistas de mass media. Seus trabalhos trazem normalmente celebridades do cinema, da música, grandes modelos internacionais. Produzem para revistas de modas e publicações de cultura pop. Numa sociedade calcada na velocidade, em que mudanças frenéticas impõem a produção vertiginosa de imagens, a arte da fotografia logo se degradou em modos/modelos de representação cada vez mais anódinas, clichezadas, autofágicas. De sua onipresença nas grandes metrópoles, as imagens já não são vistas. Esta contradição diz muito sobre a anestesia das percepções. Por isso a Indústria, dependente da surpresa, do impactante, do novo, avidamente absorve aqueles que, dotados de alguma originalidade, produzem imagens capazes de singularizar o exaustivamente visto.
Inez e Vinnodh fazem isso: seus trabalhos alimentam um mundo ávido por imagens não banais. O que singularizam seus trabalhos é a transgressão do modo convencional de representação. Seus retratos são ostensivamente artificiais, posados, construídos.
A manipulação da imagem por recursos técnicos de luz ou digital não são escamoteados em suas fotos.
Mesmo o p&b mais banal, traz os artistas em poses ostensivamente não naturais. Apostam, estranhamente, na assimetria, sem nunca abrir mão de que o representado se configure em belo, ainda que pincelem aqui e ali algo de grotesco. Esse grotesco que se faz por adereços/objetos inseridos no corpo: as lentes de gato em George Clooney, um lenço na boca de um modelo.
Contudo, é frequente a presença de algo delicadamente ambiguo: a representação “madura” de uma atriz mirim, ou a representação juvenil e sexy de sexagenárias.
Também a ambiguidade sexual: mulheres representadas como homens, homens como mulheres, a construção explicita de andrógenos.
Num mundo sem sagrado, não tem o menor pudor de apropriarem-se de um repertório imagético sagrado (figuras de santos) para sugerir, via imagem, um embate entre bem e mal: a sugestão de um mundo, de certo modo, pervertido:
Por vezes retiram a humanidade do retratado, tornando-o apenas objeto. Mas sempre objeto sexualmente desejável, ainda que se confunda com um manequim.
Nunca abdicam de expôs em suas imagens, um caráter emotivo, extensivamente glamourizado, sexual. São criadores de criadores de totens, parecem fugir à vulgarização da imagem, buscar algo significativamente novo. Estrelas, cerebridades não se fazem com palavras ou ideias – tampouco por ideais – fazem-se, num mundo carente de deuses, por imagens. São ícones: a coisa em si: quase a quebra entre significante e significado: a coisa a vista, rapidamente apreensível.
Mas o amor, o afeto de casal, quando homem e mulher se confundem num só, quando ambos se tornam extensão um do outro, e se confundem num só corpo, Inez e Vinoodh reservam apenas para os autorretratos que fazem de si:
Artistas, por “criadores” que são, converteram-se também em ícones, objetos de culto, talvez não só pelo próprio poder de “esculpir” totens de uma nova forma, mas de desanuviar olhares olhares viciados restituindo-lhes a paixão de ver.
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