Há alguns meses eu assisti a um trailer de um filme que me chamou muito a atenção. Pesquisei sobre o tal filme, e ele estava levando vários prêmios, como Sundance e Cannes. Não parava de ver o trailer e imaginava quando eu poderia ver a história completa daquela menininha que parecia uma força da natureza. Em princípio achei que fosse um filme da África, pois ter uma criança negra como protagonista não é algo comum deste lado do oceano. Enganei-me, era americano, independente, e por isso a sensação de coisa nova no ar foi evidente. Graças a Internet consegui assisti-lo, já que só estreará aqui em Janeiro, Beasts of the Southern Wild ou, o quase diabético, Indomável Sonhadora, na tradução brasileira.

A história gira em torno da garotinha Hushpuppy, que mora com seu pai numa comunidade de pescadores em Louisiana, sul dos EUA. Um lugar pobre, cortado por rios e pântanos, isolado da civilização e cercado por grandes indústrias (Apelidado de ‘A banheira’ pelos moradores). Hushpuppy passa seus dias conversando com os animais, correndo pela floresta, inventando brincadeiras, brigando com o pai, sentindo uma baita saudade de sua mãe e indo à escola à beira de um rio. Lá, a professora diz às crianças como elas devem lutar pela sobrevivência e conta-lhes sobre a história de um animal pré-histórico chamado Auroque (ancestral dos búfalos) que comia os bebês dos homens das cavernas, e agora estão presos nas geleiras. As mesmas que com o aquecimento da Terra podem inundar toda aquela região sulista. A partir desse momento a dura realidade se mistura à fábula na cabeça de Hushpuppy, já que a menina descobre que seu pai tem uma doença e uma grande tempestade inunda toda a região, trazendo água do mar, matando as árvores, os peixes e outros animais.

Lutar pela sobrevivência, não aceitar fazer parte do sistema, ser forte e não chorar com as dificuldades, cuidar do que ama, respeitar o lugar onde vive, ter coragem para lutar. São muitas possibilidades de interpretação para se entender a vida daquela comunidade dentre os que não fogem da tempestade para proteger sua história, suas vidas, heranças e raízes. A história pode ter um caminho simples, mas as motivações são complexas. Por diversas vezes a sensação de que as pessoas ali são selvagens, transforma-se em confirmação, quando elas se auto denominam como sendo animais. Integrados àquela natureza como uma parte, não algo superior e explorador. Eles não querem luxo, eles querem permanecer naquele lugar onde são felizes, independentes e resolverem à sua maneira os problemas que aparecem. Hushpuppy não é só a esperança e amor pela vida, ela representa a resistência em frente a um mundo destruidor, como os Auroques. A poesia da história não encobre a dureza, é uma aliada para o crescimento e amadurecimento da personagem. É uma pena que novamente a tradução brasileira para o título de um filme fique totalmente aquém do original. Este não é um filme para as crianças. E obras deste nível deveriam ter o cuidado que merecem. De qualquer forma, é uma história inesquecível.

Mas um filme desse nível não passa sem curiosidades, não é?

– Este é o primeiro longa do diretor nova-iorquino Benh Zeitlin, de 29 anos. Filho de um brasileiro.

– Hushpuppy é interpretada visceralmente por Quvenzhané Wallis. Wink, o pai, é interpretado por Dwight Henry, igualmente brilhante. Mas nenhum deles era ator profissional, o que pode impedi-los de uma indicação na premiação ao Oscar em 2013, já que o sindicato dos atores estabeleceu esta regra. Sinceramente espero que isso se resolva, pois as interpretações são poderosas demais para que não estejam na festa e, quem sabe, levar as estatuetas. Aliás, o filme merece muitas menções, qualquer coisa fora disto será injustiça.

– Quvenzhané Wallis foi escolhida com a idade de 5 anos numa disputa com outras meninas mais velhas. Mas as principais razões para se a preferida foram: Ler perfeitamente, ter um grito poderoso e um arroto de assustar. E resultou nessa interpretação que a crítica e o público tem se derretido como geleiras e aumentando os níveis de elogios para a pequena.

– Muitos moradores da região de Montegut, onde se passa o filme, foram utilizados como atores. Essas mesmas pessoas sofreram com o furacão Katrina em 2005 entre outros furacões, tempestades, inundações, vazamentos de petróleo, todo o tipo de dificuldade. Mas continuam lá, sobrevivendo e emprestando essa força às interpretações que representaram suas próprias vidas.

 

Assista ao trailer legendado de Beasts of the Southern Wild


Site do filme com muitas informações:

http://www.beastsofthesouthernwild.com

 

 

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