“Nomear um objecto equivale a suprimir os três quartos de prazer da poesia, que é feito de adivinhar pouco a pouco: sugeri-lo, eis o sonho.” (Stéphane Mallarmé)
Em certos dias eu me sinto tão pobre, pobre… que nada há em mim pra poder te dar. Sem uma estória boa pra contar, nem um deus humano pra descrever…
Uma lagoa de coisa alguma, com pequenas ondas sopradas… um vento suave agradando a ponta dessa árvore que há em mim, sob esse céu de memórias e esperança. Sem crônicas, nem contos. Só esse canto mais deserto de mim, onde nada acontece. Nada…
Poesia, talvez… é, Poesia, sim! Preenchendo espaços, laços passos na direção do desconhecido que há em você me lendo aqui, me levando daqui, importando-me para dentro da tenda sua em nome do amor com que me elegeu… seu! Escritor, amigo, objeto, pretexto, texto… no mar de interpretações… suas. Só suas!
O dia sem inspiração me faz assentar sobre essa pedra e contemplar. Esperar esse rio de sussurros. Admirar o nada com o mesmo respeito com que se deve receber os acasos viajantes nos alcançando. Chapéu na mão, e a gravidade no coração, como quem vê passamentos, como quem se despede de quem simplesmente… deve seguir, a despeito da dor que finca… e deixa, sem querer deixar.
Em certos dias, eu só tenho versos, que os parágrafos me assustam demais! Uno, assim, dentro da cerração, lanterna na mão, de querosene meu lampião… suficiente para achar você, sem disfarces!
“Então você está aqui?!… Ah, me dá logo esse abraço que é meu! E seu também!”
Não, não há nada para ler. Nada além de mim e essa vontade de te achar. Livre e branco, sem rima, sem bandeiras… Firmamento forrado de andorinhas só, beijos e risos só, espírito e sinceridade… só, possibilidades… de encontros…. só!
Nos dias sem inspiração, tenho só o espaço, o tempo e a solidão! Tudo dentro de mim, transbordando, quando penso em achar você aqui, querendo me achar também… E conseguindo!
Dias sem inspiração, mas não sem encantos, não sem sedução, não sem mistérios pra se admirar…
Dias apenas mais desafiadores… menos óbvios.
Tempo apenas de deixar o Sagrado se mostrar, mesmo que ele permaneça sem explicação, sem nome, sem compreensão…
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