A cantora do Recôncavo Baiano comemora os 10 anos do consagrado Santo e Orixá, seu disco de estréia, com o lançamento do álbum Chão de Terreiro, no próximo dia 12 de dezembro na Casa do Choro, no Rio de Janeiro.

O novo trabalho de Glória Bomfim reúne 13 canções inéditas do escritor e compositor carioca Paulo César Pinheiro. 

Uma semana depois do icônico e mais gravado compositor do Brasil, PCP, comemorar os 50 anos de poesia em show com os Cantores da Lapinha também na Casa do Choro, a cantora e Yalorixá Glória Bomfim apresenta seu novíssimo repertório, o álbum de inéditas intitulado Chão de Terreiro. Visitando periodicamente a Terra da Garoa para promover seus shows — que têm sido muito bem recebidos, diga-se de passagem — Glória protagonizou, ao lado do Conjunto 4×4, um verdadeiro espetáculo no último dia 01/12 na Casa Barbosa, espaço localizado na Bela Vista e íntimo do sambista paulistano.

Ao final, a cantora anunciou o lançamento do novo álbum na Cidade Maravilhosa, para regozijo da atenta platéia que a assistia. No dia seguinte, em entrevista também concedida na Casa Barbosa, ela contou, entre um trago no cigarro e outro, um pouco sobre a sua história, o início da trajetória dentro do samba e o envolvimento com PC Pinheiro e Luciana Rabello.

A imagem pode conter: Gloria Bomfim, close-up

— Foto: Reprodução

“O meu primeiro contato com o samba foi desde o dia em que eu nasci. Entranhou… Eu comecei a cantar desde os oito anos. A música foi tomando conta de mim”. Ela ainda relembra a sua mãe, uma característica cantadeira do recôncavo baiano, e completa: “A música me adotou desde o dia em que eu respirei”.

Como todo e toda artista, Glória sabe que há um momento, uma linha tênue que separa o seu canto primitivo do seu instrumento de trabalho, a voz como sendo provedora de sua renda. Sobre este momento, ela rememora o álbum Santo e Orixá, seu primeiro disco gravado, responsável por lançá-la como porta voz do samba e das culturas e cultos de matriz africana.

“Eu já cantava antes, e quando vim pro Rio, continuei a cantar. Frequentava as rodas de samba da Portela, Tradição, Mocidade de Padre Miguel… Onde eu chegava, cantava. Mas, até aí, eu não imaginava que a carreira de cantora seria uma profissão. Então, eu me tornei uma profissional como cantora depois que eu gravei este CD”.

Tida pelo público como uma artista que transmite a energia ancestral qual um fio condutor da linhagem das almas, Glória Bomfim faz questão de defender o samba como música oriunda dos cultos e lamentos africanos, sem esquecer-se das histórias que aprendera sobre uma das origens do ritmo. “Na África, nas tribos, nos quilombos, o samba tinha o nome de ‘oração’. Depois de todo sofrimento, eles se reuniam pra cantar, pra dançar… Aquilo era uma oração!”.

Quando questionada, ainda, sobre o seu primeiro disco, que tivera grande contribuição de PCP, a Yalorixá elucida a história: “Grande não! De total contribuição do Paulo César Pinheiro. A figura mais importante, na verdade, foi a esposa dele, a Luciana Rabello. Foi através da Luciana que eu cheguei até ele. Ela foi a peça principal, minha porta voz”.

E esse encontro só ocorreu cinco anos depois que Gória já trabalhava como cozinheira para Paulo e Luciana; além do serviço prestado, nem eles, tampouco ela, tinham conhecimento das histórias e competências uns dos outros. “Nem sabia quem era Paulo César Pinheiro quando eu entrei lá. Mas foi no decorrer do tempo que essas coisas vieram. Aí é que eu fui saber que PCP era a pessoa responsável por me fazer sair de Salvador e ir ao Rio, à procura do dono da música Viagem. Eu simplesmente estava dentro da casa dele e não sabia. Coisas da vida e do destino.”

Glória Bomfim, 61, cuja trajetória no mundo do samba é irretocável, trata este mesmo samba como a sua “razão de viver”, sendo fonte inesgotável de energia, ancestralidade e vitalidade. Ela defende o respeito aos ritmos que hoje figuram nas programações das rádios e televisões, mas não deixa de citar que sente pena do momento atual da música, vez ou outra, e lamenta o fato desta musicalidade que é vendida ser carente de letras e melodias bem pensadas. Ainda que diplomática, para ela, “se um dia o samba acabar, acabou tudo”.

Sobre o álbum Chão de Terreiro, que é pré-lançado neste próximo dia 12/12, às 19h, na Casa do Choro, Glória Bomfim, nossa Yalorixá cantora finaliza:

“A gente pode esperar muita coisa boa! Este disco já era certo, só precisava chegar a hora. ‘Santo e Orixá’ foi um sucesso. Foi não, ainda é! Mas este CD tem 10 anos já, e o público começou a pedir. Tanto que o Chão de Terreiro é uma continuação de Santo e Orixá. Foi quando eu cheguei na Luciana e disse que o público tava me cobrando, e com razão. Disse a ela: ‘Fala pro Seu Paulo que eu quero gravar o 2º CD, pra ele me dar as músicas’. E ele, em resposta: ‘O segundo CD da Glória já tá pronto. Eu só tô esperando ela me pedir’! Me entregou 17 músicas inéditas, eu escolhi 14 e começamos o processo de gravação, resultando num disco com 13 canções”.

Ela conclui, dizendo que este pré-lançamento é uma “prestação de contas com o público”, uma maneira de retribuir todos estes anos de trabalho e carinho. O álbum físico estará a venda no dia do evento e a data de distribuição digital será divulgada em breve, pela produção da cantora.

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