Em 1973, o presidente ditador Médice estava a todo vapor na repressão. Todos os artistas da época, com a óbvia ênfase em Chico Buarque, eram reprimidos pela censura em sua arte.

Não diferente disso, foi Tom Zé. Depois de ter várias composições suas vetadas pelos censores do Estado, Tom quase desistiu de fazer música, assim como outros que, se não desistiram, criaram heterônimos (por terem seus nomes “sujos” com o Governo) – Salve Julinho de Adelaide! – para que suas músicas fossem liberadas.

Mas eis que o grande poeta vanguardista e amigo de Tom Zé, Décio Pignatari, sugeriu a ele que, ao invés de confrontar o Governo com poesias musicadas – que é o que o profeta Tom Zé faz de melhor – alfinetasse-o com imagens, afrontando o Estado e driblando a censura.

E foi o que ele fez. Na homérica capa do LP Todos os Olhos (1973), o obstinado profeta, junto a Décio e Chico Andrade criou algo surpreendente – o que fez desse álbum ter uma das maiores capas da história fonográfica brasileira, quiçá mundial. A ideia era colocar uma bola de gude em um ânus, ou cu para os íntimos, e fotografa-lo bem de perto para que parecesse realmente um olho. Tudo isso, meus amigos, na capa de um LP sem o menor canhestro.

Aprovado pela censura, o álbum – que aliás é um dos melhores do baiano – foi sucesso de vendas e, com ele, muitas dúvidas emergiram sobre que olho seria aquele. Tempos depois, Tom Zé, logrando de toda genialidade que Deus lhe deu, revelou a origem daquele olho, o que fez muitos ficarem atônitos e ovacionarem em pé.

Trinta e nove anos depois, Chico Andrade decidiu relevar ao mundo, a foto original daquele ensaio.

“A moçoila que posou fazia ponto na rua e cobrou um cachê artístico, inclusive, assinando recibo e tudo mais”, conta ele. “As fotos foram tiradas na própria agência e depois ampliadas e estouradas (até ficar imperceptível). Testamos na boca também mas, a ideia era usar um cu mesmo, para tirar um sarro da censura vigente”. E tirou. Aliás, não só tirou como marcou o álbum na história cultural e comportamental do Brasil.

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