A poética criativa, seja na literatura, seja na música ou até mesmo na arte, tem seus mergulhos mais profundos e doloridos nos momentos de crise em que o artista se permite revelar. No Code do Pearl Jam (1996) é fruto de um momento crítico, resultado de uma banda fragilizada e fragmentada. Pearl Jam é uma banda que sempre se envolveu em todos os processos criativos de seus discos, e talvez esse por isso que seus discos realmente começam pela capa.
No Code do Pearl Jam: Não há segredo
Até que ponto um momento pode influenciar tanto em uma banda? No Code é um disco cru, denso, sombrio. Suas letras são frágeis, humanas, sinceras. Resultado provável de um ano de brigas com Ticketmaster, esforço para fazer as próprias turnês, desentendimentos de integrantes, conflitos pessoais com o showbizz. Não é de se estranhar que seja um disco tão sincero. Present Tense, acima, deixa clara a vontade de se fazer o que ama e a falta de pretensão existente quando o objetivo é criar para si mesmo.
Mas como conceituar um momento tão fragmentado? Como traduzir tantos conflitos? Não há código, não há conceito. Não há nada além do universo que permeia os integrantes, pequenos universos que formam uma coisa maior: a vida. Não há segredo, nós somos o segredo. Não há nada além de nós e dos fatos do dia a dia. Como representar essa efemeridade? Polaroids. Sim, a capa não é uma montagem “fotochopada” qualquer. É uma fotografia de várias Polaroids. Uma massa de pequenas imagens subjetivias que se fazem revelar a cada segundo de cada música. Polaroids essas que também formam o próprio encarte. Cada letra está atrás de uma foto.
No final, fica claro: No Code do Pearl Jam é uma forma de nos alertar a não mudarmos o sentido natural das coisas. Este conceito muito forte, vivo e presente é assinado por Jerome Turner. Jerome assina grande parte dos trabalhos artísticos do Pearl Jam, e está intrínseco no dia a dia da banda, já que é o próprio Eddie Vedder. Esse é o nome que Vedder utiliza para assianar seus trabalhos artísticos e que com o tempo foi sendo desvendado. Para quem assistiu ao documentário da banda, sabe que ele sempre esteve totalmente ligado a qualquer imagem que a banda fosse passar, da arte à política. Essa é a cabeça de um artista que não se limita à sua especialidade e se arrisca.
No Code é um disco difícil de se escutar, mas muito fácil de se apaixonar. Daqueles que podemos ficar ouvindo sem parar enquanto mergulhamos no universo de sua capa e de seu encarte.
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