Em homenagem à sua filha, Sistah Mari escolheu gravar seu clipe no bairro em que nasceu e cresceu, no Primavera City
Fortalecimento da quebrada, valorização de carreiras femininas, prova de que o trabalho independente de artistas brasileiros está vivo: Chega no Balanço é sobre isso, uma mensagem escondida por trás de movimentos sincronizados de coreógrafos dedicados.
Produzido pela REALI7E Records, o clipe de Chega no Balanço é resultado do trabalho de diversos profissionais que se dedicam ao enaltecimento de carreiras independentes e de mulheres mães e fortes da periferia de São Paulo, trazendo em sua base a voz de milhares de silenciadas lutando para sobreviver através da arte.
Confira o clipe:
Desde o beat até a finalização com muita luta
Como já sabemos muito bem que nada vem fácil, no período em que compôs a letra de “Chega no Balanço”, Sistah Mari passava por uma gravidez de risco que a colocou em prova de sua dedicação à carreira artística.
Selecionada no projeto RLAB (Laboratório de Resgate), do Coletivo Econsciencia, Sistah Mari compôs Chega no Balanço ao lado de Diego Davi, NAVI e Robson Lyra, durante o período mais difícil que se viu da sua carreira.
É neste momento que a empatia com o outro se fez presente para chegarmos no resultado que temos hoje: com dificuldade de locomoção devido à gravidez de risco, Diego Davi foi buscar Sistah Mari para apresentar os beats que dariam origem à música.
“Ele acreditou no meu trabalho, me buscou em casa, foi um dia muito incrível, escrevemos a música, tivemos uma vivência junto com o Robson Lyra, foi uma troca de ideia, ouvindo o instrumental e escrevendo… minha referência foi a Gloria Groove e Isa, com minha filha sendo fã das duas, escrevi a música pensando nela”, revela Sistah Mari.
Quando questionada sobre o valor que a obra traz, Sistah Mari não poupa dedicatórias à força que vem de dentro em cuidar dos nossos. “Tive vários obstáculos, minha última gestação me fez pensar em desistir, eu estava sozinha perante um abismo, passando super mal, ruim de saúde e com várias questões psicológicas, no meio da pandemia ainda… e a música me proporcionou que eu pudesse fazer algo para deixar para minha filha”.
“Sempre foi muito difícil, principalmente por eu ser mãe: tem responsabilidade, tem gente que não quer chamar para determinados eventos, uma cobrança que fazem para mães que não fazem para homens que estão na mesma situação. São resquícios do patriarcado que faz com que nós adiemos nossos sonhos por essas questões”, comenta Mari sobre o espaço que ocupa como mãe e artista brasileira.
Fortalecimento da quebrada em que nasceu
A escolha de usar a comunidade do Primavera, na Zona Leste de São Paulo, não foi aleatória. Local em que nasceu e cresceu, Sistah Mari selecionou a dedo o pano de fundo para seu mais novo lançamento. Sempre com foco em fortalecer a cena local, sendo uma das primeiras representantes do reggae na região.
“No começo era só eu e minha irmã que fazia um reggae lá, e hoje já tem mais pessoas da nova geração que estão chegando com força nesse espaço, respeitando nosso trabalho, conhecendo nossa trajetória, mostrando que estou no caminho certo… Eu posso não desbravar o mundo, mas o que eu posso fazer e o que eu fiz à minha quebrada, trazendo representatividade da verdade e da luta, é impagável”.
A participação de crianças e empreendedores locais reforça a mensagem, inserindo quem constrói a face das vielas na vida real para um registro sincero da realidade da comunidade na obra audiovisual.
Equipe de dançarinos dedicados
Imagina só juntar duas equipes de dança, um dos principais representantes do dancehall no Brasil e mais o apoio de dançarinos individuais para fazer a criação, ensaio e participação da coreografia de Chega no Balanço.
A coreografia feminina foi criada por Carol Zimmerman e Karoline Pereira, queens da Academia Dancehall, com adaptação de passos masculinos pelo NG Coquinho, da mesma escola, e um dos principais representantes do Dancehall no Brasil, estilo inspirado na base do passinho jamaicano.
A dança é um catalizador de emoções, então um dos principais objetivos é extravasar as emoções e conseguir desfocar um pouco dos problemas que precisamos enfrentar diariamente, principalmente na quebrada. Além disso, a dança também pode ser uma forma de não se render ao sedentarismo durante a pandemia.
“Uma questão interessante também é a base cultural, então não é só dança, é toda uma história de criadores, cultura e ancestralidade. Uma das coisas muito boas que fazemos é esse resgate. Isso faz com que nós possamos conectar e reconectar como povo preto”, comenta NG Coquinho.
Dando voz à expressão do povo, a dança se comporta conforme a realidade que está inserida, não fugindo do racismo enraizado que temos na nossa sociedade. “Se você se incomoda com quem expressa sexualidade através da dança, ao som de tambores de origens africanas, só lamento. São as nossas raízes, nós trabalhamos com a base no respeito e é nesse caminho que a dança se manifesta”, completa NG Coquinho.
Além disso, o grupo de dança IDM deu corpo aos dançarinos participantes do videoclipe. Respeitosos e carinhosos com a cultura dancehall e a origem jamaicana, o grupo teve poucas horas para se preparar para a participação, obstáculo que não impediu a presença incrível dos dançarinos impecáveis.
“Por muito tempo eu lutei para que o dancehall fosse mais valorizado, principalmente dentro do reggae, gênero do qual o estilo pertence, buscando uma conexão com os cantores, então foi mais uma das realizações fazer esse trabalho”, finaliza NG Coquinho.
Ficha Técnica
Direção: Gabriel Alexandre
Produção Executiva: Diego Davi
Figurino: Yesla Bright
Coreografia: Academia Dancehall, Carol Zimmerman, Karoline Pereira, NG Coquinho
Dançarinos: Academia Dancehall: Carol Zimmerman, Karoline Pereira, NG Coquinho; IDM Oficial: Denise Dias, Luana de Souza, Lucas Benevides, Maria Antiquera, Michael Douglas, Nicoli Assunção, Raissa Arzamendia, Renan Leite, Tamires Costa, Taylor de Castro, Taysa de Castro, Yvan dos Santos
Elenco: Cicelline Pugliese, Denise D’Paula, Guilherme de Goes, Janilton de Sousa, Luciana Monteiro, Luís Eduardo, Vanessa Ferreira
Produção: Carol Farias
Voz e Composição: Sistah Mari
Produção Musical: Diego Davi e NAVI
Mis e master: Modestto
Apoio: Nessa Dreads Barbearia
Agradecimentos: Comunidade do Primavera e Jardim Colorado (Zona Leste de São Paulo)
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