O escritor de graffiti e designer Danilo Roots recentemente participou do concurso Vivo Call Parade e ficou em terceiro lugar, levando um prêmio fruto de uma votação virtual. Mas, antes de tudo, é nas ruas que encontramos os personagens de Roots em um estilo que exalta toda a beleza das cores e formas naturais. Conheça um pouco mais do trabalho do artista em um bate papo que, com muita satisfação, tivemos a oportunidade de fazer.

Danilo, em primeiro lugar, obrigado pela atenção. Conta pra gente como foi o seu primeiro contato com as artes.
A arte sempre esteve muito presente em minha casa, meus pais sempre tiveram dom pra todo tipo de artesanato, quando eu ainda mal sabia andar eles tinham uma barraquinha na feira hippie da prefeitura de Santo André, e até hoje eles variam entre bijouterias, tricô, biscuit, marcenaria, etc. Já na minha pré-adolescência, em minha rua havia uma crew de hip-hop que dançava break em frente a minha casa e faziam graffiti em alguns eventos e eu sempre ia junto pra acompanhar, tinha boas referências como The Nitros, Chorão, Adriel Nick, Ciro, Traços, Binho 3º Mundo, OsGêmeos. Eu sempre desenhava no papel mas nessa época comecei a arriscar meus primeiros desenhos nas paredes, fiz alguns na virada dos anos 90 pros anos 2000 mas logo resolvi parar para investir na área de design digital, área que atuo até hoje. Em 2009 sofri um acidente de moto que trincou meu ombro esquerdo e que me manteve afastado do trampo por 2 meses e foi nessa época que meus amigos Ney Braga e Paçoca me arrastaram de volta para o graffiti, o vício voltou, mas dessa vez não pretendo parar mais.

De um modo geral, qual a mensagem que você deseja passar com as suas artes?
Antes eu não pretendia passar mensagem nenhuma, somente dar continuidade a essa cultura do graffiti que sempre gostei, tanto que antes eu só fazia letras, mas com o tempo e com a evolução da técnica eu comecei a arriscar a fazer uns personagens mas ainda não estava satisfeito, sentia a necessidade de criar um estilo próprio e único, pra que todos que vissem meu trabalho na hora já reconhecessem que era meu, e por eu fazer Roots, por sempre gostar de natureza achei que tinha que criar algo que tivesse alguma relação com isso e foi aí que eu criei a personagem Flower Girl, uma espécie de “Deusa da Natureza” com cabelos de flores, que traz cores pro mundo cinza que vivemos, que traz alegria pra quem a vê e que de certa forma mostra o quanto é importante a natureza para nossas vidas.

Recentemente você participou e ficou em terceiro lugar no concurso Vivo Call Parade. Como foi expor um trabalho nessa plataforma?
Bom primeiramente gostaria de agradecer meus amigos que fizeram uma grande campanha pra que eu ficasse entre os três primeiros, sem a ajuda deles isso não teria acontecido, e também gostaria de deixar bem claro que isso não prova que um artista é melhor ou pior que o outro, a arte não dá pra se julgar, tudo depende do ponto de vista de cada um, haviam muitos outros ótimos participantes. Quanto a plataforma, achei muito interessante. Estou acostumado a sempre fazer em muros ou telas, ultimamente tenho buscado fazer em plataformas diferentes pra ver até aonde a minha arte pode ir.

O que você pensa a respeito desse tipo de iniciativa que a Vivo realizou?
Achei uma bela iniciativa, pois além de ter sido uma ótima ação publicitária, ela ainda divulgou o trabalho de muitos artistas bons e que muita gente ainda não conhecia, bancou um valor generoso pro material, um cachê artístico pra todos os cem participantes e graças ao concurso ainda levei um tablet de última geração pra casa. Mas o mais importante disso foi meu trabalho sendo divulgado, tive um feedback maravilhoso, muitas pessoas me adicionaram no facebook só por causa deles, outras entraram com contato querendo algum desenho meu em suas casas/negócios. Fiquei muito feliz com todos esses acontecimentos.

Você acredita que falta um incentivo para a produção artística no Brasil ou agora essa realidade está mudando?
Quem faz graffiti na rua (por amor), não está preocupado com incentivo ou não. A partir do momento que alguém quer sua arte para outros fins, seja ele qual for, tem que pagar por isso. E quanto a isso, muita coisa ainda tem que mudar, por exemplo, o brasileiro não tem dó de gastar mais de mil reais em um celular que vai durar poucos anos mas tem dó de gastar numa obra de arte que vai durar pro resto da vida. Mas as coisas estão mudando com o tempo, estamos passando por uma transição em que o graffiti está presente em grandes campanhas publicitárias, em grandes galerias, ta sendo disputado por colecionadores de arte e isso de certa forma é um incentivo pra quem faz.

Na sua visão, o graffiti deixou de ser marginalizado pela sociedade?
Acredito que melhorou bastante de uns tempos pra cá, mas muita gente ainda não sabe a diferença entre o nome graffiti e pixação, teve um dia em que eu e meu amigo Paçoca saímos pra fazer um graffiti, pedimos autorização em uns sete muros, estávamos levando a tinta, não íamos cobrar nada e todas as respostas foram não, as pessoas nem se quer deixavam a gente mostrar nossos trabalhos, os muros podiam estar mofados, sujos, caindo aos pedaços e mesmo assim eles nem queriam saber. É triste ver a ignorância de algumas pessoas. Quando estou pintando, muitas pessoas param pra parabenizar, elogiar, mas acho que muita coisa ainda há de mudar.

Para encerrar, deixe um incentivo para quem hoje faz arte no Brasil.
Meu incentivo pra quem faz arte é que persistam naquilo que gostam, que invistam num estilo próprio, que não tenham preguiça, e que nunca copiem o estilo de outros artistas, você não precisa ser um ótimo desenhista mas se tiver um estilo próprio e original com certeza irá se destacar.

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