No último sábado, 27, acontecia em São Paulo o segundo ato do Anhangabaú da Felizcidade. Um dia de ocupação do Vale do Anhangabaú, pautado pelo artigo 5º da Constituição Federal, validando o espaço público como sendo de todos e primordialmente feito para que seja usufruído por aquele para quem o espaço existe: o público.
Criado e realizado pela iniciativa livre de vários coletivos que, sob o nome de Existe Amor, se reúnem e unem suas forças por uma cidade mais viva, o evento desta vez veio pautado por todas as manifestações recentes no Brasil, e também pelo Marco Civil da Internet. Essa era uma das propostas do ato, pensar a internet como um território tão livre e público quanto as ruas – e esses devem ter funcionalidades sociais irrestritas a toda a população de modo democrático e inclusivo.
No mesmo cenário onde milhares de paulistanos passam todos os dias, diferentes palcos foram montados, ecoando música, cultura, e um clima de festa popular por uma das principais artérias de São Paulo. Um convite de SP para SP, como se a cidade gritasse “Tô aqui, vem me conhecer!”.
Era rap, reggae, rock, graffiti, break, performance, debate, ou só um sábado de sol com os amigos na praça. No dia em que centenas de pessoas ocuparam o Vale mais famoso da cidade, cada um pôde ter o seu próprio Anhangabaú da Felizcidade. Pluralidade, mas quase se misturando – já que os palcos se distanciavam por poucos metros -, como é a própria São Paulo.
Por outro lado, era o dia da desocupação também. Moradores de rua que têm o Vale como sua casa, se deslocavam pra lá e pra cá enquanto as visitas faziam festa em sua sala. Os que dançavam sob o efeito do álcool ou do crack não sugeriam diversão, mas o peso de tantas histórias difíceis abrigadas pelos colchões esticados no chão sujo do Centro.
A participação despretensiosa de um deles ao sentar-se à roda do debate – enquanto a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano discutia a privatização de espaços e reformas para a ocupação do Vale até o ano da Copa – ilustrou bem o caminho gigante a ser pavimentado até a construção de uma sociedade onde espaços e direitos iguais não sejam apenas projetos ou estudos, mas realidade para todos.
A tarefa dos coletivos com o evento foi mostrar o leque de oportunidades a serem consideradas. Agora, fica a critério de outros responsáveis compreender a mensagem e viabilizá-la. Da Felizcidade muitos puderam experimentar já no sábado, um dia atípico culturalmente em São Paulo, que deixou um gostinho de como seria se a real cidade ocupasse a cidade. Ao reunir pessoas diferentes, das mais diversas regiões e situações, todos vibrando em volta da mesma causa – por engajamento ou por diversão -, um passo importante para este futuro foi dado.
*Colaboraram Damaris de Angelo, Heloíse Frunchi e Vitor Ranieri
Fotos: Luisa Santosa e Priscila Castilho
Vídeo: Gabriel Alexandre
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