Muito tem se falado de apropriação cultural e a polêmica gerada em torno desta temática. Mas será mesmo que ela é polêmica? Ou isto surge a partir do desconhecimento do que seja, de fato, apropriar-se de uma cultura?
Primeiro de tudo é preciso entendermos o conceito para depois adentrarmos num debate, seja ele a natureza que for. Numa geração onde a informação é atualizada a cada segundo nas redes sociais, é preciso estabelecer um filtro do que se lê. Informação não significa conhecimento. Se esse filtro não existir, as chances de tomarmos como conhecimento uma informação baseada em debates rasos sobre a temática discutida, aumentam. E esses debates são rasos em função do não conhecimento. É uma bola de neve.
A apropriação cultural trata-se do desconhecimento de uma simbologia que representa um determinado povo, que passa a ser produzida em larga escala e mercantilizada, ou seja, torna essa simbologia num produto capitalista, onde qualquer um pode adquirir e utilizar sem saber a sua origem ou mesmo representação.
O capitalismo pode até “propagar” a cultura de acordo com o seu interesse (o lucro, é claro), mas deslegitima toda uma simbologia de resistência, de história e principalmente de luta. Ela passa a informação sobre determinada cultura, ao passo que se expande comercialmente falando, mas não reproduz o conhecimento da sua origem, desprotagonizando a sua história. Olha aqui o exemplo de informação x conhecimento.
É muito difícil apontar o dedo para alguém e dizer que este banalizou cultura x ou y. Estamos inseridos não só numa sociedade capitalista, influenciada pelo consumo, mas numa sociedade composta de uma ampla diversidade de raças e etnias, tradições, culturas, idiomas e outros elementos.
Segundo o IBGE, só de indígenas existem cerca de 305 etnias que pronunciam mais de 270 idiomas. Esse número é acrescido às diferentes ramificações de povos europeus, africanos, e tantos outros que migraram para o Brasil durante o seu período colonial | pós-”descobrimento” (a palavra não é bem descobrimento, não é?).
Acredito que a polêmica que cerca a apropriação cultural engloba justamente a miscigenação. É importante lembrar que, de todos esses povos que originaram a nossa sociedade, os negros e os índios foram os mais oprimidos, tendo por vezes, essa origem apagada na história.
Djamila Ribeiro fala sobre o perigo da hierarquização da cultura e este posicionamento é muito pertinente. Quando não existe uma relação hierárquica dentro dos diversos contextos culturais, a troca se faz presente, uma vez que esta diversidade se reconhece com respeito, de igual patamar.
Já a hierarquização coloca determinada cultura como inferior, sendo esta inferioridade posta somente para os seus representantes. Uma simbologia originada desta cultura vista como menor, quando jogada no mercado e capitalizada, vira moda, se torna cult e é a partir daí que se dá a apropriação cultural.
Como tudo vira produto numa sociedade capitalista, é preciso que tenhamos esta noção na hora de debatermos temas polêmicos e tentarmos enxergar o indivíduo como parte do sistema, sendo ele, muitas vezes, um mero reprodutor do que lhe foi ensinado: o consumo.
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