Tá bom. Digo não à exploração da reserva amazônica, articulada por esse governo (qualquer chavão é bem-vindo, já que de chavões em chavões vamos nutrindo nosso inconformismo passageiro virtual).
Todos(?), obviamente, dizem não. Dizem e diriam.
Os índios, os seringueiros, as cobras, os primatas, os passarinhos e passarões, no entanto, são os que efetivamente sofrerão as mazelas desse ataque covarde. Nós, aqui do conforto dos lares, de nossa vida citadina tão preocupada em promover-nos e a consolidarmo-nos como sendo a bolacha mais original do pacote bolha, sofreremos (talvez) somente os efeitos a longo prazo disso tudo; sofreremos (de forma fugaz) quando chegar em nossas timelines hologramáticas a imagem de um bicho morto, de uma clareira aberta, de um buraco cheio de maquinário estrangeiro. Sofreremos publicamente quando houver a notícia da contaminação de rios e lençóis freáticos (o aquífero Alter do Chão possui cerca de 430 mil km², o suficiente para que se cresçam olhos aqui e acolá, haja vista os prenúncios da seca que assolará o futuro próximo). Sofreremos veladamente, talvez também, a soma de nossa hipocrisia, acumulada após tanto tempo de regalia virtual e likes dados (e recebidos) por sermos quem não somos.
A Amazônia, aquela que fica lá longe no mapa. Aquela que pensamos ser somente mato e rio, aquela que resiste ao peso de um mundo cujas raízes paulatinamente estão se transformando em cabos de fibra óptica; sim, essa mesmo que chora a cada investida criminosa predatória, está sendo vendida já há muito.
Nós, por outro lado, temos venda nos olhos e muita cera no ouvido. Merda na ponta dos dedos e enxofre na expiração. Fuligem que acoberta os poros e correntes que aprisionam o senso ético de se viver em coletivo. Clamamos a paz para nossos iguais, clamamos a igualdade para nossos confrades; mas é tão confortável tudo isso, não é mesmo? Nos dá a sensação de sermos participativos de alguma coisa “grande” e atual.
A televisão e o mundo apontam, as gentes da internet (ou fantasmas ou mesmo zumbis [por isso mesmo os zumbis fazem tanto sucesso, nada como uma identificação registrada nos confins de nosso íntimo]) apontam o apontamento dos outros – via de regra não, mas… Todos apontam alguma coisa para um alguém. Esse senso de iluministas pós-modernos… ai ai.
Enquanto isso, lá no chiqueiro chique, o clã das sanguessugas que cretinamente vão jogando o país numa espécie de bueiro global vai se edificando como a mais suja corja desse espectro podre a que chamamos de Governo.
Governo de quem e para quem?
Há pessoas que merecem o lodo, pois são porcos de alma assim como esses canalhas.
Há pessoas que são igualmente responsáveis por esse leilão que se mostra às nossas vistas tão cegas.
Ainda sim, há (muitas) pessoas que dizem não.
Artistas, subcelebridades, subsubcelebridades… Donas de casa, pais de família, alunos das mais variadas categorias. Youtubers, Facebookers, Whatzapatistas, esquerdos tuiteiros, destros, ambivalentes, Jornalistas, especialistas, todas as espécies de istas. Todos – Fatalmente – dirão não.
O problema é que é o termo “não” está tão enraizado em nosso cotidiano, que sua eficácia por vezes se perde na semântica e torna-se um algo um tanto banal.
Parabéns a nós todos.
Parabéns à nossa incompetência de vivermos sob a égide de um senso DEMOcrático. Não aprendemos muito com nada, quer seja histórico, quer seja contemporâneo.
Demos pouca cracia para nós.
Demos ou nos deram.
E assim, a gente vai se vendando e se enrolando e se chafurdando nessa merda toda que está se pintando para um futuro tão próximo quanto triste.
Raul Seixas, visionário, já previu isso lá nos idos de décadas atrás. Ele, contudo, versava sobre a locação.
Hoje, parece que estão interessados mesmo, é na venda.
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