Nervos de Aço fala de rotinas, desgraças, aflições. Suas letras (tanto de Paulinho quanto de outros compositores) são uma linha tênue entre a banalidade e uma poesia tão fiel à realidade que soa autobiográfica. Quando essa música tão tanto se mistura ao intenso trabalho de Elifas Andreato, o resultado é uma obra em carne viva que traz as emoções à flor da pele: cortantes.
Década de 70, Brasil caótico, cotidianidades mecânicas, vidas vigiadas. Dentre tantas bocas caladas à força, havia aquelas que berravam suas angústias e indignações. Uma classe artística oprimida que sofria como todos, mas, diferente do resto do mundo, ousava expor suas ideias. E em 1973, Paulinho da Viola colocou-se na pele do proletariado pra falar daquilo que era o último suspiro do que a ditadura tentava tirar de nós: o amor.
Nervos de Aço de Paulinho da Viola: Em meu peito eu tenho demais
A poética do trabalho de Elifas está entre as mais importantes da ditadura e do design brasileiro. Seu trabalho une denúncia social a um traço denso, que parece gritar os sentimentos contidos nas cenas ilustradas. Na capa de Nervos de Aço, Elifas capta o Paulinho onipresente das letras. O buquê de flores murchas, as lágrimas, o luar, o amor perdido, tudo soa quase fúnebre. As cenas retratadas parecem se encaixar em todas as músicas de uma forma totalmente provável, quase uma fotolegenda. É esse o espírito que a obra toda nos entrega: a quase preferência (e em Comprimido, a constatação) de que a morte é mais agradável do que viver a vida miseravelmente cotidiana.
O traço pesado e a tipografia minimalista fazem parte da obra de Elifas, que trabalhou sempre ao lado de pessoas que o permitiram criar uma obra memorável e uma nova cara às capas de discos brasileiros.
A capa. A música de abertura. A música de encerramento. A poesia. Nervos de Aço é, do design à música, o grito de um Brasil sufocado pela própria vida insustentável.
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