Admirável Mundo Novo, romance de gênero científico, escrito por Aldous Huxley e lançado em 1932 na Inglaterra, completa 84 anos.

Admirável Mundo Novo

Narrando um futuro assustador, Admirável Mundo Novo mostra uma sociedade dividida por castas é condicionada psicologicamente e biologicamente em prol do avanço científico e de uma produção em massa e de larga escala, onde a padronização é a chave para uma felicidade quase que obrigatória com um condicionamento artificial e previsível, esta história tem a nos mostrar que este gênero de ficção talvez esteja, aos poucos, se tornando realidade no mundo contemporâneo.

Admirável Mundo Novo

Acima, os Fords 1949 na sua linha de montagem de Dearbon.

Ao ler Admirável Mundo Novo, percebemos algumas realidades condizentes à época que Huxley quis demonstrar através de metáforas (ou seriam sátiras) bem diretas. No livro, os personagens se encontram na “Era Fordiana”, uma alusão à Henry Ford – Norte Americano pioneiro na indústria automobilística que desenvolveu um trabalho padronizado e mecânico para a fabricação em série de peças. Esta forma de trabalho, conhecida como “Fordismo” transformava os trabalhadores quase que em robôs, com movimentos repetitivos e mecânicos. Na ficção, os indivíduos que faziam parte das castas inferiores, pré-condicionados desde a concepção artificial a serem desprovidos de intelecto condiziam com a massa proletária na realidade contemporânea, onde o acúmulo de capital era o objetivo final, facilitado por uma mão de obra barata e alienada.

Mas não somente de situações condizentes à época Huxley tem a nos mostrar. Várias passagens abordadas no livro acabam por desconstruir um gênero de ficção e provando que essas situações já se encontram em nossa atual realidade social.

Admirável Mundo Novo

Publicado em 1932, o livro conta a história de uma sociedade que desconhece a democracia. É regida por um totalitarismo manipulador que convence a sua massa de que o trabalho é a sua vida, que a felicidade é plena e que cada indivíduo pertence a todos. O condicionamento psicológico é realizado desde o nascimento (que também é artificial) para que os indivíduos cresçam alienados para a produção ao qual foram desenvolvidos. O “SOMA” – Pílula artificial que proporciona prazeres momentâneos, é um santo remédio. Em síntese, é uma sociedade que preza pela estabilidade, onde cada indivíduo tem a sua função pré-determinada e imprescindível para que este modelo social seja mantido. O sentimento humano é a ameaça para desestruturar essa estabilidade. Sendo assim, é contido através do condicionamento psicológico e manipulador.

Admirável Mundo Novo

Traçando um paralelo e fazendo uma análise comparativa, não chegamos, de fato, a vivenciar essa realidade?

Esta felicidade quase que obrigatória não está cada vez mais presente numa era onde as redes sociais nos mostram somente o lado positivo da vida das pessoas?

E o avanço científico da procriação? Hoje temos a fertilização in vitro e até a pré-seleção de embriões que podem determinar critérios genéticos dos filhos que serão gerados.

Os meios de comunicação que manipulam as nossas vontades e acabam por tirar a nossa espontaneidade, numa tentativa de controlar um comportamento social.

Numa geração onde a ansiedade e o stress estão cada vez mais presentes, as drogas que afetam as percepções podem ser a fuga ou a diversão para prazeres momentâneos.

 

Mas a relação mais surpreendente que tive ao ler Admirável Mundo Novo, foi com relação a não existência dos sentimentos. Na ficção, eles são uma ameaça para a estabilidade social, uma vez que cada indivíduo é condicionado a ser pleno no papel que desenvolve em sociedade. Já vivemos esta realidade quando somos condicionados a, desde cedo, ter a “obrigação” de levarmos uma vida padronizada. Nascer, crescer, estudar, escolher uma profissão, se graduar, arrumar um emprego, ser bem-sucedido, casar, ter filhos. Claro que esta forma regrada de lavarmos a vida não inibe 100% o sentimento humano, mas acaba por tirar a espontaneidade das relações e a forma como nos colocamos em sociedade, dificultando um conhecimento do nosso próprio eu, quando já temos a receita pronta para ser seguida.

Admirável Mundo Novo

Mani di Burattinaio (1929-Mexique). Photography by Tina Modotti. Archivio Cinemazero

A analogia do livro com a vida real nos ajuda a enxergar como o perigo de uma vida preestabelecida está tão presente na atualidade e a gente nem percebe. Ajuda a desconstruir, ou pelo menos a tentarmos desconstruir uma vida já escrita, pronta, com modelos e padrões a serem seguidos à risca. O livro leva a reflexão para que possamos fazer a nossa própria história.

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