“Você é um turista de sua própria juventude”. Uma das frases mais emblemáticas de Trainspotting 2, Danny Boyle, 2017, traduz o maior desafio do filme: como fugir da sombra de seu próprio passado? Afinal de contas, T2 não existiria sem o T1.
E como todas as sequências sofrem com as inevitáveis comparações, é difícil assistir ao novo longa sem pensar no seu percursor. E, desta maneira, Boyle tomou a atitude certa: Trainspotting 2 é uma homenagem a Trainspotting 1.
Não apenas usando referencias sutis, mas com referências explícitas e vários “flashbac ks”, remetendo ao primeiro longa. Entendo como um ato de coragem que autenticou o trabalho. Leve, o filme de Danny Boyle se dá ao luxo de produzir cenas memoráveis, e que não tenho dúvidas, marcarão a história do cinema por muito mais do que vinte anos, tempo do intervalo entre o primeiro e o segundo filme. Como a cena em que Renton (Ewan McGregor) salva Spud (Ewen Bremner) do suicídio. Impagável.
No primeiro filme, Renton diz:
“Escolha vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha a porra de uma TV grande. Escolha máquinas de lavar, carros, CD players e abridores de lata elétricos.Escolha uma boa saúde, baixo colesterol e seguro odontológico. Escolha pagar financiamento. Escolha um lar. Escolha seus amigos. Escolha apodrecer no fim de tudo, numa casa escrota, como uma vergonha para a porra dos filhos egoístas que você gerou para substituí-lo. Escolha seu futuro. Escolha vida.”
Em Trainspotting 2, o mesmo Renton, vivido por um agora consagrado Ewan McGregor fala:
“Escolha a vida. Escolha Facebook, Twitter, Instagram, e torça para alguém, em algum lugar, se importar. Escolha ir atrás de antigas paixões, desejando que você tivesse feito tudo diferente. Escolha assistir a história se repetir. Escolha seu futuro. Escolha a realidade da TV. Então, seja viciado. Mas seja viciado em alguma coisa. Escolha aqueles que você ama. Escolha seu futuro. Escolha viver.”
Trainspotting 1 mostra um grupo de jovens errantes. Viciados em drogas, com poucas perspectivas. Mas eles carregavam consigo algo único e de inestimável valor: a juventude. Em T2 eles não têm mais isso. Envelheceram e precisam encarar uma das mais duras realidades da vida: não “deram certo”. Se tornaram “losers”, como dizem os americanos. Mas Danny Boyle parece não concordar e continua a dizer: mesmo assim, escolha a vida.
Se Trainspotting 1 foi um dos filmes mais importantes sobre juventude que o cinema já viu, Trainspotting 2 é um dos filmes mais importantes sobre a dura tarefa de “crescer”, e de ver a juventude indo embora. É triste e esperançoso. Depressivo e consolador. Difícil de explicar. Obrigatório de assistir.
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