NO é mais recente filme do diretor chileno Pablo Larraín e que conta como foram os dias do plebiscito de 1988 em que o povo teve a oportunidade de escolher continuar ou acabar com a ditadura de Augusto Pinochet que perdurava por 15 anos. Para contextualizar, Pinochet ocupou a presidência a partir de um golpe contra o então presidente Salvador Allende, que se matou no palácio enquanto o exército brutalmente o bombardeava. Assim, apoiado pelos EUA que temiam a aproximação cubana na política chilena (prática esta, recorrente em vários países latino-americanos, inclusive o nosso), Pinochet implementou seu plano capitalista para o Chile e a intensa perseguição política contra os opositores, resultando em milhares de desaparecidos, exilados, presos e mortos.
NO que tange ao filme temos uma situação curiosa e dramática. O que torna o filme um diferencial dentre tantos outros sobre ditaduras é ter colocado aqui o foco na campanha publicitária do SÍ e do NO. Qualquer um sabe que não existe vitória política sem publicidade e grana. Transformar ideologia num produto consumível como qualquer outro produto que você vê na televisão e acreditar que aquilo fará sua vida melhor por ter o tal objeto de desejo.
NO Chile, antes do plebiscito de 1988, houvera outros dois, vencidos facilmente por Pinochet, não sem artimanhas. Os opositores de esquerda não tinham qualquer possibilidade de expor suas ideias. Por pressão internacional o Chile foi obrigado a fazer um plebiscito mais “democrático”, com a exposição da oposição e de suas ideias. A direita contratou uma agência de publicidade para promover sua campanha da vitória certa. Neste grupo havia o publicitário Lucho Guzmán (Alfredo Castro) que tinha afinidade com o governo e que não teve dúvidas em relação ao seu apoio à campanha do SÍ.
NO entanto, Guzmán se viu numa situação inusitada. Seu empregado mais brilhante, René Saavedra (Gael García Bernal), filho de exilados, é convocado pela campanha do NO. Guzmán o tempo diz para Saavedra a inutilidade de sua atitude, a campanha seria um fracasso. Mesmo assim, continuam a trabalhar juntos em campanhas publicitárias para outros clientes (empresas).
NOtificado pela esquerda, mas sem entender verdadeiramente a profundidade da campanha, Saavedra cria conflitos com pessoas do partido ao tentar criar uma propaganda como se estivesse fazendo campanha para um refrigerante: um pais lindo, sem problemas e pessoas felizes. Ele terá que passar pelo processo de seriedade que vive seu país, já que ele voltou para o Chile após anos sem tomar muito conhecimento das atrocidades de Pinochet.
NO lado pessoal, como se não bastasse o grande trabalho pela frente, Saavedra tem que criar seu filho sozinho, fruto de sua ex-mulher, uma militante que foi presa várias vezes, mas que vive por perto e que Saavedra não consegue esconder o que ainda sente pela mulher. Mas como nada é fácil numa ditadura, além de colocar sua profissão em risco por apoiar a oposição, ele e sua equipe sofrem ameaças. Uma nova atitude tem que ser tomada para vencer Pinochet que apóia sua campanha no “milagre econômico” chileno conquistado com investimento estrangeiro e que agrada profundamente a classe média. Do outro lado, há uma grande parcela do povo vivendo na pobreza, que tem medo de dizer o que pensa e que se conforma com toda a situação.
NOmeado pela Academia para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro nesse final de semana, o filme tem qualidades únicas, como a utilização de uma câmera antiga por parte de Pablo Larraín para manter a urgência do momento histórico chileno, e funciona brilhantemente. O filme se utiliza das versões originais das campanhas na televisão. Quem viveu nos anos oitenta consegue identificar vários aspectos que hoje parecem toscos, mas que eram a linguagem visual da época e que funcionava. Uma curiosidade final: o diretor é filho de um casal que tinha profundas ligações com a direita, mas o filme realmente louva o esforço pela mudança de governo naquela empreitada histórica para o Chile. Nem sempre os pais estão certos.
NO infelizmente só está em cartaz no Cine Livraria Cultura: (Avenida Paulista 2073).
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