A pergunta de Harun Farocki “Quem é responsável?” em exibição no Instituto Moreira Sales nos convoca a pensar na intricada trama de questionamentos políticos e sociais por trás de seus recortes videográficos.

Com obras que perpassam toda a segunda metade do século XX até 2014, Farocki consegue abordar algumas das principais questões da contemporaneidade – a tecnologia midiática, a indústria da guerra, impacto das novas linguagens, questões migratórias e hipervigilância.  

A relação da imagem, dos signos e da construção social – os simulacros e a realidade se intercalam, se confundem e nos fazem pensar se é a vida real que gera os simulacros ou o inverso. E os limites entre a fatalidade e a intencionalidade.

Dentre os recortes de Farocki podemos assistir profissionais da indústria científica relatando efeitos de armas químicas, utilização de técnicas psicológicas em centro de treinamento de guerra, games voltados para o treinamento de soldados ou imagens para recuperar traumas de guerra. Materiais didáticos e informativos com conteúdo expressamente preconceituoso.

Em uma base militar um treinamento em uma cidade cenográfica construída no deserto californiano, a produção contou com figurantes imigrantes iraquianos, paquistaneses, afegãos, vestidos e interpretando papéis de pessoas reais de seu país de origem.

É um dos artistas que traz a semiótica e os efeitos de comunicação para a arena da arte. Faz uma análise do próprio ofício a partir dos processos de captura e edição de imagens. Participou do processo que levou cineastas a migrar para salas de exposições na segunda metade do século XX e do universo das videoinstalações.

Harocki entrevista o filósofo Vilem Flusser sobre texto, imagem e as transformações que a inserção do vídeo trariam para a forma de comunicação contemporânea. Por conter mais canais de transmissão de informação para serem capturados pelo sujeito.

 

A partir das imagens e depoimentos de agentes e operadores de sistemas que parecem desimplicados dos resultados da guerra, vemos que os responsáveis pelo funcionamento da indústria da violência são muito mais em número e diversidade de microssistemas e se sentem menos responsáveis do que se imagina.

Freud em Psicologia das massas aponta que o senso crítico, a culpa ou a responsabilidade se dissolvem quando se age em grupo. No campo da violência, na indústria da guerra, desde os operadores até os soldados, bem como no campo do simulacro – consumidores de imagens de violência e produtores de conteúdo de violência, ninguém demonstra senso de responsabilidade pelos resultados dos processos os quais são colaboradores, pela identificação ao grupo, aos ideais do grupo. 

Não há imagem inocente se pensarmos que em tudo há o fazer humano e os filtros de escolhas. Pessoas produzem imagens, imagens conduzem movimentos e ações políticas. Considerando-se a humanidade como detentora de forças inconscientes alheias a civilização, somos todos responsáveis, embora alguns conscientes e outros não.

Exposição

16 de março a 30 de junho de 2019

IMS Rio de Janeiro

Galeria principal
Rua Marquês de São Vicente, 476
Gávea – Rio de Janeiro/RJ

Horário

Terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 11h às 20h

Contato:
(21) 3284-7400
[email protected]

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