Desde o nascimento, na primeira infância se inicia a constituição simbólica e afetiva do sujeito, inclusive os instintos de violência. A infância e a adolescência são fases em que se absorvem: imagens, significantes, afetos, prazeres e desprazeres, tudo ocorre de forma muito mais intensa e determinante.
Em uma fase cujas referências simbólicas são tão incipientes, a profusão de imagens e conteúdos de violência de forma passiva nos filmes e noticiários ou ativa/virtual como o caso dos jogos e aplicativos, não pode ser saudável, surge como um catalisador da pulsão de violência, que influencia de alguma forma o modo de operar do sujeito.
O apelo à violência em filmes, videogames e noticiários cotidianos sobre o belicismo de nações, governantes e ações criminosas coloca os significantes da violência na ordem do dia. E não há controle sobre como isto vai incidir nas conjunções psíquicas mais íntimas do sujeito, sobretudo em fase de formação.
Não existe um único responsável, não existe uma única solução. É difícil educar nos tempos atuais regidos pelo imperativo de gozo, ou seja, de ausência de barreiras as pulsões. Agora o sujeito pode e deve se afirmar e fazer valer sua forma de gozo sem limites. Os ideais nas vitrines no mundo contemporâneo estão não só à disposição do olhar, mas atraindo a atenção das crianças para a violência. Não se trata mais daquela agressividade natural e importante para o sujeito poder constituir e afirmar seu desejo e espaço. As barbáries pululam nos noticiários, algum deles incitam a violência de forma explícita, os filmes e séries esbanjam sangue e explosões, Trumps, Bolsonaros, e ditadores mundo afora sustentam posturas bélicas. A indústria pornográfica, nos moldes atuais, piorou o problema da violência contra a mulher. Os agentes produtores de conteúdo descobriram o aumento da audiência quando o assunto é violência, e basicamente funcionam a partir deste imperativo. Existem marcas que patrocinam estes canais, existem editores, produtores e apresentadores
Os tempos são sombrios. Os significantes civilizatórios, dos limites, da alteridade, do diálogo e da compreensão estão em queda. E casos como os do massacre na escola de Suzano, bem como o ataque a mesquita em Nova Zelândia precisam trazer à tona uma reflexão global sobre o não-senso da violência. Pais, professores, psicólogos e orientadores precisam ajustar o manejo de forma a não contemporizar a violência gratuita encapsulada e ingerida cotidianamente por nossas crianças e adolescentes.
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