Minhas duas maiores paixões: teatro e poesia. O teatro porque desenha a entonação, e a poesia porque explora a composição do meu amor eterno pelas palavras. Poesia falada é basicamente o resultado do casamento destas duas artes, e é exatamente isso que mantém minha obsessão acesa.
Recentemente descobri o vídeo de uma performance do rapper e poeta Suli Breaks, hoje, viral no YouTube chamada: “Why I Hate School But Love Education“, em português “Porque Eu Odeio Escola Mas Amo Educação”, que além de uma bela poesia, se transformou em um manifesto mundial em nome de muitas crianças presas no estereótipo de educação mantido pelas escolas.
(Ative a legenda em português)
Depois desta, Suli compôs “I Will Not Let An Exam Result Decide My Fate” ou “Eu Não Vou Deixar Uma Nota Decidir Meu Futuro”, e o interessante destes dois manifestos é a interação das pessoas nos comentários dos vídeos, o que mostra a realidade do tema proposto.
(Ative a legenda em português)
A poesia vale a reflexão:
“Neste momento existe uma criança saindo da reunião de pais, numa discussão quente com sua mãe, se perguntando por que ele tem que estudar matérias que nunca vai usar na vida. Ela vai olhar pra ele, com olhos vagos, fazer cara de dúvida, pensar por um momento e vai mentir. Ela vai dizer algo parecido com: ‘Pra você conseguir um bom emprego, você precisa de boas notas e essas matérias são importantes para isso. Nós nunca tivemos essa chance quando eu era mais nova’, e ele vai responder: ‘Mas você era mais nova há muito tempo atrás, não é mãe?’ e ela não vai responder, mesmo que faça todo sentido, mesmo que as necessidades das sociedades tenham mudado desde que ela tinha 16 anos.
Mas ela vai ignorá-lo, pegar ainda mais firme na mão dele e arrastá-lo para o carro. O que ela não sabe é que ela não o ignorou só pra ele calar a boca. Ela não mentiu porque estavam saindo de uma reunião de pais e uma briga no corredor ia pegar mal. Ela não vai mentir porque passou a última hora convencendo um professor sisudo que ia garantir que seu filho estudaria mais em casa. Não. Ela vai mentir simplesmente porque nem ela tem uma resposta. Mesmo que em toda sua vida ela nunca tenha usado Teorema de Pitágoras, Falácia Patética e ainda não saiba o valor de ‘X’. Ela vai confiar na palavra da sociedade que vai dizer que o seu filho, uma das mentes mais afiadas da escola, é hiperativo, não se concentra, se distrai facilmente e é desobediente.
Estudantes! Quantas equações, matérias e datas vocês memorizaram logo antes de uma prova para nunca mais usar? Quantas notas boas vocês conseguiram e que nunca foram mencionadas em uma entrevista de emprego? Quantas vezes vocês lembraram de alguma coisa minutos depois que o professor disse: ‘Parem de escrever’, só para no mês seguinte receber sua nota e ver que ficou 1 ponto abaixo da pontuação máxima? Isso significa que lembrar de algo 5 minutos antes faz de você mais qualificado para este ou aquele trabalho? Talvez sim em um formulário.
Todos nós temos diferentes habilidades, formas de pensar, experiências e genes. Então por que uma sala cheia de indivíduos é avaliada pelo mesmo método? Isso significa que Cherrelle vai pensar que é burra porque não conseguiu fazer algumas contas. E se esse problema não é tratado de forma correta ele se torna uma profecia ‘auto-cumprida’. Aí toda escola tem a audácia de ter uma ‘política de igualdade’. Ah, a ironia… Provas são a forma de a sociedade dizer o quanto você vale. Mas você não pode deixar ela dizer o que você é, porque essa é a mesma sociedade que diz que o aborto é errado, ao mesmo tempo que despreza pais adolescentes. É a mesma sociedade que vende produtos para deixar seu cabelo e sua aparência mais naturais dentro de uma embalagem com uma modelo metade ‘photoshopada’, com cílios postiços e aplique no cabelo.
Com pastores que pregam a caridade, mas têm jatos particulares. Irmãos que são contra a ganância, mas estão todos gordos. Pais que dizem querer ‘filhos com educação’, mas que ficam maravilhados com a fortuna de Richard Branson. Governos que pregam a paz, mas apoiam a guerra. Que dizem acreditar na importância da educação superior e continuada, mas por que aumentam o valor da mensalidade todos os anos? Eu acreditei na Sra. Jefferson quando ela me levou pra sua sala e disse que minhas notas seriam essenciais para o meu sucesso, porque fomos ensinados a sempre seguir a Sra. Jefferson, mas aí eu tirei Jefferson da equação, aprendi a pensar por mim mesmo. Percebi que fomos ensinados a seguir uma senhora que nos enganava.
Ah, a ironia… Testem-nos com provas, mas a prova final nunca é a última porque elas nunca nos preparam para o teste final que é sobreviver. E o que eu sugiro é um pouco estranho, então não espero que todos entendam a não ser a criança que sabe o que significa não ter valor além daquela nota ‘D’ ou ‘A’ que recebeu no fim do semestre. Ou aquelas cujas histórias não eram tão boas para o professor de inglês, porque aparentemente ela esqueceu ‘técnicas literárias chaves’, não seguiu o plano da aula e a linguagem era muito informal.
Aí o professor vai citar Hamlet e Macbeth e você vai se controlar pra não demonstrar sua raiva cerrando o punho, deixando só o dedo do meio aberto na mão, e perguntando se ele tem noção de que Shakespeare era conhecido como um inovador da gíria. Ou a criança no fundo da sala, que pensa: ‘por que estou estudando uma coisa que não me empolga? enquanto os olhos dela brilham quando confrontada com um problema de matemática. Então essa é para minha geração. Para os que encontraram o procuravam no Google, os que seguiram seus sonhos no Twitter, retrataram seu futuro no Instagram e aceitaram seu destino no Facebook.
Essa é para os meus ‘insuficientes’ e ‘desistentes’, para meus graduados sem emprego. Para meus ajudantes de loja, faxineiros e caixas com sonhos maiores. Meus empreendedores autônomos, os meus que mudam o mundo e os que perseguem sonhos por que o propósito do ‘porque eu odeio a escola mas amo a educação’ não era iniciar um debate global, mas deixar claro que com 72 ou 88, 44 ou 68, nós não deixaremos as notas decidirem nosso destino. Paz”.
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