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No meio da pilha de banquinhos, violões e poesias muito bem escritas, apenas uma parte da dita música popular brasileira encanta meus ouvidos. Falo da música que é feita com tempero, que tem gosto forte, e que deixa marcas na memória. Gosto da rebeldia, da malandragem, da tristeza profunda, da música que expõe a própria fraqueza, daquela que grita, que traz o novo. Falo de gente que canta coisas como “Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve, correta, branca, suave, muito limpa, muito leve/Sons, palavras, são navalhas, e eu não posso cantar como convém sem querer ferir ninguém”. Falo de cantores como Belchior.

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Meu primeiro contato com o cantor cearense aconteceu com o disco Alucinação, de 1976, o segundo gravado por Belchior após sua chegada ao Rio de Janeiro. Deixou o Nordeste para vandalizar a música brasileira, desinteressado em teoria, atirando versos em chamas no estado absoluto das coisas. Alucinação que vem do dia a dia, da violência das coisas e dos sentimentos, daquilo que é nada divino, nada maravilhoso.

Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida realmente é diferente
Quer dizer…
Ao vivo é muito pior!

Deste disco são os sucessos Apenas um Rapaz Latino Americano, que o apresentou nacionalmente, Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais, eternizados pela regravação de Elis Regina. Mais para o final do disco, uma das canções mais viscerais que já ouvi na vida, o protesto À Palo Seco. Com um verso desta, explico o porquê de recomendar com urgência ao amigo leitor a audição de Alucinação: “eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês”.

LADO A
00:00 – Apenas Um Rapaz Latino Americano
04:17 – Velha Roupa Colorida
09:06 – Como Nossos Pais
13:46 – Sujeito de Sorte
17:02 – Como o Diabo Gosta

LADO B
19:06 – Alucinação
24:00 – Não Leve Flores
28:12 – A Palo Seco
31:08 – Fotografia 3×4
36:31 – Antes do Fim

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