Até conhecer o baiano Edson Gomes, tinha eu muita resistência em aceitar que um brasileiro poderia fazer um som tão bom quanto o dos meus ídolos jamaicanos. Da mesma forma, imaginava que ninguém expressaria tão bem a mistura do soul e do gospel como os americanos. Cassiano me provou o contrário. Quando pensava que não havia mais nenhum “preconceito geográfico” em mim, deparei-me com o paulistano Bixiga 70, e julguei de antemão: “aí vem um cover tupiniquim do Fela Kuti”. Não podia estar mais enganado.
Embora traga em seu nome uma referência à Africa 70, banda que acompanhava Fela em sua primeira década de carreira, a orquestra nascida ao número 70 da Rua Treze de Maio, no coração de São Paulo, tem muito mais a oferecer do que simples repetições daquilo que já foi feito pelos grandes nomes do afrobeat. Isso pode ser comprovado no disco homônimo de estreia dos paulistas, lançado no final de 2011, pelo selo ÁguaForte.
E não é à toa que uma das melhores faixas do álbum seja o funk Balboa da Silva, uma homenagem ao ex-pugilista Nilson Garrido (conhecido por usar o boxe para resgatar vidas, em sua academia improvisada sob o Viaduto do Café): Bixiga 70 é um verdadeiro cruzado na orelha. Do batuque africano, passando pelo blaxpotation e chegando às big bands latinas, o disco é todo composto por trilhas sonoras cinematográficas em potencial, capazes de transformar a simples caminhada do trabalho para casa em uma épica cena de ação de Shaft ou Jackie Brown.
Mistura essa que pode ser justificada pela diversidade de músicos na banda. São ao todo 10 instrumentistas (mais o produtor Victor Rice no disco), vindos de diferentes formações e experiências na cena musical paulista. São eles Décio 7 (bateria); Marcelo Dworecki (baixo); Cris Scabello (guitarra); Mauricio Fleury (teclado e guitarra); Rômulo Nardes (percussão); Gustávo Cék (percussão); Cuca Ferreira (sax barítono e flautim); Daniel Nogueira (sax tenor); Douglas Antunes (trombone); e Daniel Gralha (trompete).
Vale ainda uma tentativa de descrição a respeito do que é o Bixiga 70 ao vivo. Nesse ponto, não seria mal nenhum usar uma comparação com os rituais comandados por Fela Kuti – um prêmio para qualquer banda. A mistura dos tambores com os sopros solando na medida certa é capaz de nos transportar diretamente para as noites quentes da Nigéria de anos atrás. Quem mora em São Paulo não pode deixar de testemunhar este fenômeno, e, para o consolo de Geraldo Filme, confirmar que no Bixiga agora não há mais silêncio – muito pelo contrário.
BIXIGA 70 (2011)
01. Grito de Paz (Mauricio Fleury / Ben Lamar)
02. Luz Vermelha (Mauricio Fleury)
03. Tema di Malaika (Mauricio Fleury)
04. Mancaleone (Marcelo Dworecki / Kika)
05. Zambo Beat (Décio 7 / Kika)
06. Balboa da Silva – homenagem a Nilson Garrido (Cris Scabello)
07. Desengano da Vista (Pedro Santos – EMI)
08. Balboa Dub (Victor Rice / Bixiga 70)
09. Dub di Malaika (Victor Rice / Bixiga 70)
10. Dub Vermelho (Victor Rice / Bixiga 70)
Décio 7 – bateria;
Marcelo Dworecki – baixo;
Cris Scabello – guitarra;
Mauricio Fleury – teclado e guitarra;
Rômulo Nardes – percussão;
Gustavo Cecci – percussão;
Cuca Ferreira – sax barítono e flautim;
Daniel Nogueira – sax tenor;
Douglas Antunes – trombone;
Daniel Gralha – trompete.
Produção musical: Victor Rice, Decio 7, Cris Scabello e Mauricio Fleury
Produção artística: Thiago Cury
Gravado no estúdio Traquitana e Mixado no estúdio Copan por Victor Rice
Masterizado no Red Traxx Music por Filipe Tichauer
Arte por MZK
Produção Executiva: ÁguaForte – 2011
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