Colleen é Cécile Schott, francesa, nascida em Paris no ano de 1976. Começou na música em 2001, quando um amigo a presenteou com um software para produção musical. De lá para cá, ela lançou alguns álbuns em estúdio e ao vivo. Colaborou com outros artistas. Teve suas músicas utilizadas em filmes, documentários, apresentações de vídeo art, companhias de dança, desfiles de moda e até sites na internet! Ufa! Mas não acabou, em seu site é possível ver seu trabalho com cerâmica e escultura e, lógico, sua discografia. Ah sim, ela já foi professora de inglês. Très créatif! Mas esta é a parte fácil de contar.

Difícil é definir um som esquisito quando feito exclusivamente para soar esquisito. Colleen, que começou na brincadeira das colagens sonoras com seu software, foi desenvolvendo juntamente com outros músicos, onde ela aprendia a tocar instrumentos já que ela é autodidata, trabalhos eletroacústicos desde seu primeiro álbum Everyone Alive Wants Answers de 2003. Utilizando-se de diversos instrumentos de cordas, de sopro e rítmicos nas apresentações ao vivo, junto às colagens sonoras. O mais legal nesse universo musical que ela criou, foi ter sido influenciada por culturas asiáticas, africanas e latinas, ou seja, tudo que pudesse ser diferente e agregasse pluralidade. Aliás, seu som nada tem de francês, mas também, não posso definir como World Music. Tudo fica longe disto por ser um trabalho muito pessoal.

Melhor partir para o puro lado subjetivo da audição, sua compreensão e identificação. Uma característica, e bem marcante no som da Colleen é a sobreposição de instrumentos, muitas camadas sonoras, onde cada uma parece contar uma história, um sentimento. Esse contraponto por vezes parece caótico, mas não tem como não se sentir hipnotizado. A beleza harmônica, nascente da personalidade da artista, tem um tom melancólico, profundo, carregado de lembranças, de um futuro incerto. Há silêncios e sussurros, “Escute, aproxime-se… tente compreender o que lhe mostro, vê essas imagens?”. Dona de uma delicadeza espantosa, Colleen me faz lembrar em alguns momentos de Claude Debussy, quando evocava a natureza, a vida cotidiana, a infância, a pintura, a mitologia. Tudo foge, então, é melhor capturar esses momentos.

Alguns títulos de músicas remetem exatamente, ou, induze-nos a imaginar as cenas e, nessa conversa ao ouvido, nossa memória se encarrega de tentar completar o que não tem fim. Your Heart on Your Sleeve, Everyone Alive Wants Answers, The Sad Panther, são alguns títulos de suas músicas. Há repetições em seu som, como é comum na música contemporânea instrumental, mas em nenhum momento senti tédio, ou algum pensamento do tipo: “Poxa, se esta música tivesse dois minutos e não seis, seria o suficiente”, como acontece quando ouço algumas bandas que acabam da repetição ao pedantismo em minutos. Sua música é feita de esperas, desvios e encontros.

Cécile Schott parece-me bela por tudo que faz à sua maneira. Sua esquisitice revelada nas possibilidades sonoras produzem uma capacidade de concentrar a atenção do ouvinte encantadoramente, algo que há muitos anos não ouvia numa artista. Colleen est génial!

Discografia:

Everyone Alive Wants Answers (2003)

The Golden Morning Breaks (2005)

Mort Aux Vaches (2006)

Les Ondes Silencieuses (2007)

 

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