Melancólico e belo, Leonard Cohen começa seu primeiro romance Brincadeira Favorita (1963) já prevendo a chegada de uma das pernas do mais fundamental tripé da vida: a morte – ou, simplesmente, a partida – quando diz “(…) Assim como há noites que ficam/Sem lua, sem estrela, /Assim ficaremos/Quando um de nós tiver partido.” Aquela poesia nunca soou tão bela quanto em tua boca. Não penso em outra coisa.

Assim como no romance, Cohen evoca em seu novo disco, Popular Problems, a melancolia, o amor e ódio, tragédias, desolação e, mais do que isso, faz um contundente e às vezes bem-humorado ensaio sobre o tempo. O tempo exato que cada palavra precisa para ser compreendida e que Cohen, judeu de nascimento e budista convertido, contempla de um jeito singular, dada a velocidade da vida no século XXI.

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Valorizando frases e construções gramaticais, elevando-as a uma posição ainda mais alta, Popular Problems reflete o mundo em que vivemos melodiado por gospel, country, blues e, sim, batidas eletrônicas. Marcado pela característica voz cavernosa e grave, Leonard Cohen afirmou que é atravessado por um sentimento que é identificável por todos:

“Toda a gente sofre e toda a gente luta por ser alguém, por ser reconhecido. É preciso perceber que a luta de um é igual à luta de qualquer outro; e o sofrimento também. Creio que nunca se chegará a uma solução política se não se perceber esta ideia”. Então, nasceu um disco.

O 13º disco do canadense, lançado nesta semana, traz canções como a arrebatadora Almost like the blues, Born in chains, que admitiu ter demorado décadas a concluir, e A Street, escrito logo após os atentados de 11 de setembro de 2011 em Nova Iorque, mas só agora revelada. Ainda, Nevermind conta com uma voz feminina a cantar em árabe, representando os oprimidos e as vítimas anônimas dos conflitos armados. Tudo entremeado pela batida mais moderna do disco. Noutras palavras, a canção é, ela mesma, uma espécie de solução para tudo isso.

A desolação esnobe e a lascívia elegante que Cohen carrega, somado ao talento poético e melódico, formam um dos maiores e mais elegantes escritores e compositores do século XX – e, por sorte, ainda atuante aos 80 anos. Seu chapéu alinhado, seu terno bem cortado, seus problemas populares. O toque, em sua mente, ao corpo de Suzanne. Quando você usava sua famosa capa de chuva azul, eu percebi que a poesia nunca soou tão bela quanto em tua boca, L. Cohen. E não há cura para o amor.

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