© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

Quando a vontade de conhecer artistas independentes bate com aquele velho hábito de garimpar música nas redes sociais…

Me deparei com o trabalho da rude Sistah Mo Respect e após um tempo acompanhando o instagram da menina, trocamos algumas mensagens diretas. Soube que andava por solo paulistano e que precisava de algumas fotos. Poucos dias depois estava ela indo até a Bela Vista, número 70 da Treze de Maio, Edifício Zé Maria Nogueira – aquele prédio tomado pelas cores do graffiti, que exala cultura em seus corredores e onde foi instalado o Espaço SOUL ART, nosso lar. Foi aí que tudo começou. Quando tem que acontecer, está escrito.

Conversa boa e positiva. Gostei bastante da forma que pensa e faz, principalmente quando questionamos a responsabilidade que um artista carrega em suas mãos enquanto apresenta um trabalho ao público. Muitos se ofuscam com fama e se esquecem dos reais valores da arte, da música, do rap. Mas Sistah Mo Respect prefere manter a postura, e o respeito que é pra quem tem e pra quem sabe andar, com os pés ao chão, e a certeza de que o caminho é um só. Nossa maior alegria é conectar pessoas e colocar projetos para andar.

O ensaio fotográfico foi dirigido pela talentosissíma Vanessa Moraes no próprio Espaço SOUL ART. Além do ensaio, fechamos em parceria duas datas: um pocket show na Japa Rolling Club (Santo André) e uma apresentação em nossa casa, na festa LOUNGE&SOUL em que os djs Voodoo e J Haka comandaram os toca-discos com muito groove e boa música, e após o término do show do Red Lion, Sistah assinou o seu nome em nosso coração ao mostrar porque realmente segurava um microfone na mão.

© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

Damaris Angelo também estava no rolê, assistiu o show e agora vai nos contar como tudo aconteceu…

A noite começou graciosa, ficamos satisfeitos com o rolê intimista, que reuniu uma galera que entendia bem de música boa e cerveja gelada. Quando Sistah tomou os microfones, conquistou geral com a sua presença e beleza tracejada por toda marra e suingue que só carioca sabe ter.

Aproveitamos também para tirar algumas casquinhas e separamos perguntas pra ela, que vão introduzir seu trabalho para quem ainda não conhece, ou alimentar quem já é fã.

Mulher misteriosa de 24 anos, moradora do subúrbio do Rio, Parada de Lucas, entre a linha do trem e a Avenida Brasil, Sistah se defende de nós com sua marra, e não nos revela seu verdadeiro nome.

Não curto divulgar meu nome verdadeiro porque depois aparecem pessoas querendo forçar uma intimidade.

Um encanto mesmo assim, as referências musicais dela incluem Tim Maia – em sua fase racional, Gonzaguinha, Alcione e o disco de côco do Bezerra da Silva.

To na minha fase “valorização do nacional”.

Nos contou que no cenário do rap nunca sofreu preconceitos pelo fato de ser mulher e que em sua trajetória recebeu bastante incentivo de amigos que incluíram na na cena. Sistah também tem noção de que isso é resultado do trabalho de gerações anteriores a dela, que suaram bastante pra conquistar um espaço, hoje acolhedor, que vem resultando em cada vez mais meninas acrescentando conteúdo e feminilidade.

Hoje em dia estão aparecendo bastante meninas com conteúdo e feminilidade porque o espaço está aí para quem tem força e talento, não depende do gênero.

Apesar disso confessa que essa é uma opinião muito pessoal, isso porque conhece outras mulheres da cena que tiveram uma vivência bem diferente da dela.

Eu não gosto de levantar essa bandeira de que cantar é difícil, ser mulher é difícil e coitada de mim. Prefiro estar sempre dizendo que sou mulher, sou forte, inteligente, guerreira e que eu consigo chegar onde eu quiser e que todas e todos podem também. Basta trabalhar e nunca desistir.

A vontade de ler e escrever partiu do incentivo do seu pai, que compunha músicas de capoeira quando ela era ainda adolescente.

Isso me incentivou a criar poesias e querer cantar também, logo em seguida eu comecei a me interessar por rap e meus amigos da época me deram força.

© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

© Vanessa Moraes / SOUL ART 2014

Quanto a cena de batalhas, perguntamos se a porta de entrada para ela havia sido através do freestyle também, mas a gata nos disse que o seu negócio sempre foi escrever rap.

Nunca participei de uma batalha de freestyle, confesso que não tenho esse dom. Desde que escrevi meu primeiro rap e gravei que sou convidada para fazer shows e apresentar eventos, há sete anos que é assim.

Que o rap é rap em todo lugar, isso todo mundo sabe, mas em tudo existe particularidades também. Como a mc trabalha com o cenário de forma expansiva, estávamos curiosos pra saber sobre as diferenças entre o rap de São Paulo e do Rio. Perguntamos se ela sentia essa diferença.

Em primeiro lugar a cultura hip-hop está muito mais inserida na cultura de São Paulo do que no Rio de Janeiro. Em São Paulo, a população é quase o dobro daqui, tem mais público, dj’s, mc’s, grafiteiros, b.boys e b.girls, logo o movimento se torna maior. Agora, falar especificamente da diferença entre o rap de SP e RJ é mais difícil de simplificar e generalizar. O que eu posso dizer é que o que tá fazendo sucesso são as letras que falam sobre maconha, tirar onda, festa, dinheiro, sexo e de mulher que gosta de tudo isso. Esse lifestyle existe tanto no RJ quanto SP, mas são poucos os que vivem isso de verdade e serão menos ainda os que vão sustentar isso para sempre.

Quanto às mudanças necessárias na cena do hip-hop, perguntamos para ela o que precisava se transformar.

A cultura é linda e o hip-hop é o que é. E se algo deve ser mudado é a nossa mente, coração, postura. Cada um usa o hip-hop como quiser, mas qualquer cultura só anda para frente com respeito, amor e união.

Quanto a disseminação da mensagem, perguntamos se ela achava válido ir na “mídia opressora”, televisão, se fosse necessário.

A mídia não é opressora e sim as pessoas responsáveis por ela, e se me derem a responsabilidade de qualquer minuto para poder cantar e falar o que penso eu estarei lá com certeza. Eu ganho dinheiro para sobreviver com isso, passando mensagem, então sempre será uma coisa necessária para mim, alguém que precisa comer e passar por alguém em algum lugar desse mundo que precisa ouvir o que tenho a dizer.

Segura esse flow:

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É, 021 neguinho! Aproveita pra ouvir outros trabalhos dela no SoundCloud.

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