The Normal Heart é uma adaptação de Larry Kramer da peça que escreveu para a Broadway, de mesmo nome. Ela conta a história de ativistas gays em Nova York que lutaram por políticas de saúde pública e atenção do governo para a epidemia do vírus HIV, no começo dos anos 80.


O longa que estreou dia 31/05 na HBO, sob a direção de Ryan Murphy, o mesmo do longa Comer, rezar e amar, não conta uma história de vitimização gay, pelo contrário, a história é quase uma furiosa denúncia de instituições, governos e parte da própria comunidade gay, que participaram de um genocídio característico ao preconceito e autodesprezo. Do escritório do jornal The New YorkTimes até o gabinete do governo federal foram culpados abertamente diversos líderes por ignorar a epidemia crescente, uma causa urgente da luta de homens gays que batalhavam para salvar vidas.

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Muitos da geração do início dos anos 80 acreditavam que a revolução sexual da década de 70 e o sexo livre haviam trazido o fim do preconceito e o escancaramento do armário, mas a parte chocante da trama foi identificar a participação de muitos dos membros da comunidade agravando a situação, cegos pelo êxtase da liberdade, blindando-se contra os fatos da época. O que o vírus HIV fez foi trazer para esses homens a culpa de volta, revelando o teto de vidro por trás de toda a comemoração precipitada.  

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A luta dos personagens Ned Weeks (Mark Ruffalo) e Emma (Julia Roberts) para recrutar soldados para uma guerra que se impunha contra o amor livre, não foi tarefa fácil. Parecia demais pedir para que esses homens não fizessem mais sexo, ainda mais sabendo que para eles o fato de transar com quem quisesse a hora que quisesse, e como quisesse era não mais o marco de rebelião, mas o símbolo principal da conquista de liberdade.

De repente, gays eram identificados nas ruas pelas feridas assustadoras e a debilitada magreza. O preconceito estava no rosto das pessoas, mais forte que nunca e a Aids revelava no sexo livre a aceitação do preconceito, resumindo-se a um estereótipo que escondia o autoflagelo.

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Na época a doença não tinha nome, ninguém sabia como era transmitida e nem qual era a cura. Vista apenas como um “câncer gay”, ninguém estava muito interessado em descobrir. Demorou para o governo americano perceber que o vírus HIV atingia também homens e mulheres heterossexuais, e decidir fazer alguma coisa. Por causa dessa demora e da intransigência do governo de Ronald Reagan, milhares de vidas se perderam.

“Por que estão nos deixando morrer? Por que ninguém está nos ajudando?”. O questionamento é feito em diversas partes do filme. A resposta vem quando o administrador hospitalar Tommy Boatwright (Jim Parsons) conclui no velório de um amigo: “A verdade é que eles simplesmente não gostam de nós”.

Baseada em fatos reais, a história traz Mark Ruffalo como o alter ego de Kramer, o escritor Ned Weeks. Ele cria a organização Gay Men’s Health Crisis (GMHC) para lutar contra a doença, enquanto vê o namorado Felix Turner (Matt Bomer) morrer da doença. The Normal Heart não é uma história de heroísmo. É o retrato real de um genocídio, de uma geração perdida.

Ryan Muprhy, o diretor, com os atores Mark Ruffalo e Julia Roberts

Acho, inclusive, que quando pessoas saem no meio de um filme porque simplesmente não gostam de ver o afeto entre dois homens, elas estão ajudando a manter vivo um preconceito que quase exterminou uma geração de pessoas.

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