Ocupar inusitados locais públicos e expor música e cultura livre para todos é a proposta das festas de rua, que literalmente invadiram São Paulo e vem conquistando um público gigantesco. Trocamos aquela ideia com Paulo Tessuto; um dos propulsores desse manifesto multicultural na capital paulista e referência para uma infinidade de amantes do produto musical independente. Sabe qual foi?
A habilidade de tornar livre o que é mantido num cativeiro de paradigmas é um dos adjetivos que compõem a figura artística abstrata de Paulo Tessuto. Construindo e viralizando um conceito que por si só torna-se vivo e transmuta-se através de uma forma que reconstrói a maneira de enxergar o movimento que existe por trás de rótulos absurdamente atrasados na linha temporal da evolução. Tessuto, junto com pessoas também influentes e engajadas pelo mesmo propósito, são os responsáveis pela Carlos Capslock, festa de São Paulo que entrelaça uma intervenção a favor da liberdade de escolha substancial e psicodelica, e que há seis anos vem alcançando território nacional e internacional.
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A raiz do que é exposto em seu trabalho como produtor musical e dj, são basicamente do techno ao house, explorando outras vertentes em permanente metamorfose evolutiva, raciocínio esse que é transposto para a seleção musical da curadoria do seu evento. Seu núcleo possui uma linguagem inconfundível de comunicação e trazendo essa particularidade em evidência, foram levantadas questões que mostram qual o ponto de vista do cara sobre alguns assuntos importantes da cena, vamos lá.
Relacionando o campo de origem da Carlos Capslock, sendo São Paulo um dos epicentros da música eletrônica no Brasil. E o fato de ter tantos admiradores influenciados pela causa do movimento. Qual é a responsabilidade de quem vê seu nome como artista em um evento dito como “propulsor de um movimento de enorme expansão nacional”?
Olha, sinceramente não sei quais as responsabilidades. É gratificante ver que o trabalho que ajudei a desenvolver está sendo usado como espelho pelo Brasil afora. O que pesa mesmo e sempre digo é que, depois que você adota certas posturas, fica difícil voltar atrás; por isso, é muito importante sempre pensar na sua conduta e quais decisões tomar. Todos nós fomos criados de maneiras distintas e com certeza temos conceitos e comportamentos a desconstruir (o tempo inteiro). Falo de padrões impostos pela sociedade e pelo sistema em que vivemos.
Estamos sempre aprendendo a lidar com coisas que nos foram ensinadas da maneira errada ou digamos assim, não tão afetuosa, humanitária.
Porém, não levo os créditos sozinho da festa. A Carlos Capslock surgiu há seis anos atrás, fui o idealizador e percursor de grande parte do trabalho desenvolvido e até hoje faço a direção geral do projeto, porém, tivemos inúmeros colaboradores que passaram e deixaram sua marca. Esse novo modelo que estamos usando está sendo posto em prática desde janeiro de 2015, quando entraram: L_cio e Fractal Mood, desde então a equipe só cresce. Hoje temos em torno de 28 pessoas que são colaboradores e associados fixos: promoters, djs, iluminação, logística, financeiro, bar, etc.
Vale a pena lembrar também que surgiram outras festas (quase que ao mesmo tempo) como: Calefação Tropicaos, VoodooHop, Gente Que Transa (extinta), entre outras. Além de festas de rua que já existiam: Metanol, Barulho.org, e várias outras. Cada uma com o seu estilo, peso e importância em âmbitos diferentes. Sim, é verdade que a Carlos Capslock foi a primeira festa de musica eletrônica (house/techno) a seguir esses novos modelos e padrões de comportamento, posicionamento político-social, fora de espaços conhecidos e nas ruas, isso me deixa muito feliz e satisfeito porque sai do zero. Antes eu distribuía cds com mixes nas festas, ninguém me conhecia.
Em suas experiências musicais internacionais, quais são os principais pontos que você vê que culturalmente o Brasil precisaria se espelhar para melhor se desenvolver nesse tipo de movimento?
Acredito que seja a falta de senso de coletividade e o excesso de ganância os principais pontos que precisamos mudar. Poderíamos também citar a mentalidade colonialista e coronelista que temos na cena. Os que detém o poder precisam parar de achar que tem posse sobre os artistas. Se você toca aqui não pode tocar no concorrente. Chega até parecer um filme do David Lynch de tão surreal que isso é pra mim. A concorrência é saudável. Apenas entendam.
Com todos os resultados que até agora você conquistou e que deixaria de legado, tem algo que serviria como um conselho ou dica pra quem vem procurando trilhar esse caminho?
O que eu diria pra quem está começando? Seja original. Tenha atitude. Tenha coragem de dizer o que pensa. Não se prenda a somente um estilo musical ou padrões sociais. Seja amigo das gays, das minas. Faça seu próprio movimento. Busque seu espaço e o pão, mas não se esqueça de compartilhar. Seja o foda-se que você quer para o mundo.
(Entrevista: Julio Henrique | Fotografia: Divulgação)
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