Na última terça-feira tivemos a oportunidade de voltar ao número 70 da Rua Treze de Maio, lugar especial para o SOUL ART desde o Dia Mundial do Graffiti. Na rua já vazia lá pelas oito horas da noite, as lembranças da multidão que ocupava o Bixiga no dia 7 de abril, um dia de energia inesquecível. Dessa vez, estávamos lá para conhecer o Sarau Suburbano Convicto, que acontece na livraria de mesmo nome e tem Alessandro Buzo e Tubarão Dulixo como mestres de cerimônia.
No segundo andar do prédio que também abriga a DGT Filmes e o Estúdio Traquitana (casa da banda Bixiga 70), os graffitis nas paredes convidam a uma sala repleta de livros, discos e DVDs que dificilmente você encontrará nas grandes redes de livrarias. Ao lado de nomes já conhecidos como Sacolinha, Ferréz e Sérgio Vaz, as estantes exibem novos autores da chamada literatura marginal, como Márcia Tatiane Coimbra, que lançava e autografava seu primeiro livro naquela terça, Versos e Rimas da Noite.
Após esquentar a plateia com o som improvisado dos Listras Negras, banda de baixo e bateria formada por Xantilee e Toni Nogueira (que fez ao lado de Buzo o filme Profissão MC), o Sarau começou a receber os poetas. Homens, mulheres, jovens e veteranos, um a um, declamaram seus versos, fortes, sinceros, cortantes, transformadores. Mesmo quando lúdicos, reais. Compromisso, não viagem.
Quanto à palavra, a poesia do Suburbano Convicto tem flow, tem ciência, tem apetite pelo que é de dentro, e um olhar reflexivo sobre o que é de fora, embasado pelo conhecimento de causa que a periferia traz. Fábio Boca, Rocha Miranda, Murilo MC, Patrícia Cândido, Bruno Marselha, José Sarmento, James Lino, Mano Melo, King Nino Brown e Costa Senna, autores que emocionaram e fizeram pensar. Quanto à comunicação não letrada, olhares fortes, apertos de mão firmes, e uma humildade que desmonta, que produz coletividade.
No intervalo de uma das apresentações, Buzo anunciou que naquela noite estava sendo comemorado o aniversário de 3 anos do Sarau, completados no dia 4 de maio. Uma data importante não só para os presentes, mas para toda a cidade de São Paulo, social e culturalmente. A relevância do Suburbano Convicto não está só no produto literário, mas na promoção de uma arte com poder de transformar vidas, de educar e dar voz a quem não tem.
Foi uma noite incrível. A receptividade de Alessandro Buzo e Tubarão nos deixou sem palavras. Quase uma semana depois, alguns versos ainda ecoam na cabeça. Tanto que tomei coragem, pela primeira vez, de escrever algumas rimas em poesia, sobre a noite no Sarau. Os poetas, por favor, perdoem a ousadia, ela nasceu apenas da admiração que a arte de vocês despertou. Muito obrigado, em nome do SOUL ART, a todos os que estiveram no Suburbano Convicto e contribuíram, cada um à sua maneira, em nossa caminhada.
Toda terça no Bixiga
Quem passa nem imagina
Se junta uma gente amiga
Que fala através da rima
Se abraçam como irmãos
Se olhando apertam as mãos
Trazem num papel dobrado
O mais urgente dos recados
Um sentimento rabiscado
Assinado: Coração
Enquanto as palavras soam
E os pensamentos voam
Cada verso, um universo
A mente fica a milhão
A poesia é cortante
Olhar forte e sofredor
Conhecimento se aponta
Pra cabeça do opressor
Sala cheia de energia
A humildade contagia
Suburbano Convicto
É o nome da livraria
E também o do sarau
Revolução acontece
Poesia marginal
Vídeo: Gabriel Alexandre
Fotos: Priscila Castilho
Texto: Vitor Ranieri
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