Tenho o hábito de observar. Muito. Tudo. O tempo inteiro. Fico atenta a todo tipo de informação. Todo tipo de imagem. Observo estímulos visuais e não visuais.

De olhos abertos ou fechados. E ouvidos atentos. Sempre. Andando, comendo, no trânsito, no cinema, na padaria, na farmácia, ouvindo música, olhando para uma capa de disco. Percebo sensorialmente que observo, mesmo sem saber racionalmente o que observo. Esse olhar sem compromisso de ver talvez seja a mais importante fonte de inspiração, pois é o treino do olhar.

Também inspiro-me nas ferramentas de trabalho. Na tecnologia. Nos meus sonhos. Acho que tudo sempre pode ser observado, percebido como uma forma de alimento para a criação. Meu trabalho é muito digital, mas primeiro ele existe mentalmente. Normalmente o rascunho começa na minha cabeça, acabo usando a página em branco dos programas como uma folha de papel. Posso rascunhar numa página de Freehand ou Illustrator como se estivesse usando um tablet. Posso também fazer um desenho num papel e usá-lo como desenho feito à mão. Gosto muito dos softwares, de tudo que faz referência ao digital e da influência da tecnologia na estética, mas tudo deve ser usado de forma pensada.

Tenho também hábito de pesquisar sobre o assunto de um trabalho, pessoal ou não, que vou desenvolver. Pesquiso textos, imagens, sons… é um processo muito inspirador. Às vezes as ideias surgem prontas na minha cabeça, daí a pesquisa entra no processo de criação apenas num segundo momento, seja reforçando ou mudando completamente a ideia, mas sempre tendo como ponto de partida o insight inicial.

Sempre que tenho um trabalho a fazer fico com o assunto na cabeça o tempo inteiro. Vou tomar banho e ele está lá. Chego no bar e ele oferece-me um drink… Na hora do café, o assunto surge, translúcido, nas gotas do adoçante. Incorporo o tema. Respiro o assunto. E, assim, naturalmente, o ato de observar passa a ser mais direcionado.

Experimentar é muito importante para descobrir novas linguagens visuais. Os trabalhos pessoais colaboram para o exercício do pensar e para descobrir novos recursos e métodos. Na minha opinião, todo designer deveria ter o hábito de, paralelamente ao trabalho comercial, desenvolver estudos e projetos pessoais.

Experimentar é fundamental como exercício criativo e também como um caminho para se chegar a um estilo próprio. Com o olhar treinado, essas novas informações podem ser inseridas em trabalhos comerciais, tornando-os mais autorais. Nesse processo, o único limite é o próprio criador.

E esse é, sempre, o maior limite…

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Por Ana Starling | Publicado na Zupi #01

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