Com raízes fincadas na favela da Zona Sul carioca, Maxwell Alexandre conquista o mundo com suas telas monumentais em papel pardo
A mãe de Maxwell Alexandre, artista de 30 anos nascido e criado na Rocinha, enxerga nele desde cedo um dom divino. Na época, um sonho fixo na cabeça: realizar um curso de desenho, promessa que os pais não conseguiram manter. “Meu desejo era trabalhar com Maurício de Sousa, fazendo quadrinhos da Turma da Mônica”, relembra.
Antes de encontrar sua verdadeira verve, Alexandre foi atleta da modalidade de patins street, entre os 14 e 26 anos, e disputou diversos campeonatos. Indeciso entre publicidade e design, optou pela segunda disciplina, que contemplava fotografia, cinema e serigrafia. A virada de chave ocorreu no encontro com o pintor e ilustrador Eduardo Berliner, no curso de plástica. “Ele me introduziu à arte contemporânea. Foi onde me entendi como artista, lugar de maior liberdade para mim”, conta.
Desde a graduação, em 2016, muita coisa aconteceu em sua carreira, e rápido. No ano seguinte, integrou a coletiva Carpintaria para Todos, na sede carioca da galeria paulista Fortes D’Aloia & Gabriel. Em São Paulo, apresentou sua série mais conhecida, Pardo é Papel, que aborda o colorismo e trabalha a fundo a autoestima do povo afrodescendente, retratando o empoderamento da sociedade brasileira que vive na favela.
Sua individual de estreia, O Batismo de Maxwell Alexandre, se deu em 2018 na galeria A Gentil Carioca, que o representa até hoje. No mesmo ano, amadrinhado por Frances Reynolds, fundadora do Instituto Inclusartiz, viajou a Londres para residência artística na Delfina Foundation, retornando a tempo da premiada exposição Histórias Afro-Atlânticas, no MASP. A série Pardo é Papel nomeou a primeira aparição solo em uma instituição cultural: com estreia no MAC Lyon, na França, em 2019, itinerou em seguida para o MAR – Museu de Arte do Rio.
Entre um voo e outro, bate a vontade de voltar o quanto antes para a terra natal. “Gosto do Rio, da minha casa, do lifestyle de andar de short e chinelo de dedo na favela e descer pra praia. O caos, o calor humano e a espontaneidade da Rocinha sintetizam toda a complexidade que é o Brasil”, pincela.
Próxima parada: Paris. Novo Poder, que abre em novembro no Palais de Tokyo, foi o desafio que levou Alexandre a instalar-se, provisoriamente, em um estúdio na Gávea, onde pesquisa e produz intensamente há seis meses. “O centro da minha prática é na Rocinha. Meu local de trabalho está fragmentado entre lá, um acervo em São Conrado e este ateliê, que atende à demanda de produção para o maior espaço expositivo que já tive à disposição”, explica. E o que é o Novo Poder retratado nas inúmeras pinturas em processo? A arte contemporânea. “O foco está na presença da comunidade preta dentro do cubo branco”, contextualiza.
Enquanto isso, até 20 de novembro, a capital carioca é palco para a coletiva do Prêmio Pipa 2020, que, nesta edição, excepcionalmente é dividido entre Alexandre e mais três artistas: Gê Viana, Randolfo Lamonier e Renata Felinto. Com enorme valorização no mercado de arte internacional e ascensão vertiginosa ao panteão da arte contemporânea, o jovem demonstra anseios grandiosos: “A estratégia é a concentração de capital simbólico e intelectual, e a legitimação de narrativas do povo preto. Eu especulo a nossa vitória no futuro, e hoje sou o agente que tem o poder de criar essas imagens”, garante.
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