Semana passada completou-se um ano desde a sexta-feira quente em que Mayer Hawthorne desfilou seus refrões no Cine Jóia, em São Paulo. Na noite em que o cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista completava seus 33 anos, o público que lotava a casa (cerca de 1.500 pessoas) teve a chance de participar da festa, cantar parabéns e ser presenteado com um Soul de primeira classe. Até quem não é de dançar, dançou.
Não era a primeira vez que Mayer se apresentava no Brasil. Cerca de um ano antes, o americano havia excursionado pelo país tropical abrindo os shows de Janelle Monáe e Amy Winehouse (outros dois nomes fortes do que chamam por aí de Neo Soul). Já na ocasião, embora fosse quase um coadjuvante, a viagem no tempo promovida por seu som chamava a atenção. Não por promover nostalgia, mas por ser capaz de fundir Smokey Robinson e Snoop Dog na mesma frequência.
O fato de nunca ter feito aulas de canto, ou sequer cantado em uma banda ou um coral de igreja, apenas deixam claro algo que também pode ser percebido facilmente com os ouvidos: Mayer nasceu pra isso. Seus falsetes hipnóticos e seu swing sessentista transformam sua música em algo tão prazeroso quanto ouvir Al Green ou Otis Redding. Mais do que resgatar, Mayer veio para dar continuidade ao legado de seus ídolos. Nada mau para um rapaz branquelo de Michigan.
Até o presente momento, Mayer é autor de dois discos impecáveis: A Strange Arrangement (2008) e How Do You Do (2011), ambos lançados pela Stones Throw Records (J Dilla, Madlib, Aloe Blacc). Há pouco mais de um ano, escuto os dois na sequência quase que uma vez por mês, e não há sequer uma faixa que eu retiraria desses álbuns. Daqui a alguns anos, muitas de minhas lembranças desta época terão como trilha sonora canções como Just Ain’t Gonna Work Out, I Wish It Would Rain e The Walk.
Recentemente descobri o EP Impressions, o meu preferido atualmente. Junto da banda que costuma o acompanhar nos shows, Mayer toca alguns covers nesta coletânea, e mostra que sua musicalidade é ainda mais profunda do que o que foi registrado em seus dois discos mais conhecidos. Só depois fiquei sabendo que Impressions foi lançado algum tempo antes de How Do You Do, para download gratuito (clique aqui) no site da Stones Throw. Descobrir esse registro depois do mesmo ter passado despercebido por mais de um ano, foi como encontrar duas notas de cem no bolso de uma calça velha.
Não há por enquanto previsão de uma terceira turnê do cantor nos palcos brasileiros, o que é uma pena. Mas, pelo menos, como sugere uma foto postada em seu Instagram há algumas semanas, Mayer parece estar trabalhando em um novo disco. No post podemos ver um microfone de estúdio e a legenda “Here we go again”, seguida por comentários ansiosos escritos pelos admiradores do músico. Enquanto isso, há ainda muito material para ser ouvido, o que tornará a espera bem tranquila. Temos a sorte que os fãs de soul dos anos 60 não tinham: toda semana aparece um vídeo novo do cantor no Youtube, e sua constante evolução musical tem me deixado muito otimista em relação aos seus novos lançamentos. Vem coisa boa por aí!
[popup_anything id="11217"]