“Os New York Dolls criaram uma cena extraordinária. Você não ia apenas ver os Dolls – você tinha que ser visto vendo os Dolls. Era um lance participativo. A platéia fazia parte do show e era tão esquisita quanto quem estava no palco: David Bowie foi aos shows um monte de vezes, assim como Lou Reed. Eles estavam vendo e aprendendo” – Leee Childers, em Please Kill Me: The Uncensored Oral History of Punk (2006).
Apresentando os New York Dolls: uma banda que você vai gostar, querendo ou não.
Por Fernando Borsarini
Johnny Thunders nunca foi um artista de grande sucesso comercial. Como guitarrista e membro fundador de uma das primeiras e mais influentes bandas de punk rock, os New York Dolls, influenciaram imediatamente músicos que não demoraram pra emplacarem seus próprios hits e se solidificarem como estrelas. A banda de Thunders, no entanto, lançou dois álbuns com vendas fracas e logo se dissolveu.
Isso não impediu o guitarrista de viver uma vida no volume máximo. Thunders se lançou como artista solo, liderou os The Heartbreakers, tocou com Sid Vicious e Richard Hell e permaneceu em atividade até sua morte em 1991, com 38 anos. Tudo regado a muito álcool, heroína, sexo, problemas familiares e fantasmas pessoais.
Quase 25 anos após sua morte, seu legado permanece vivo. O documentário Looking For Johnny (2014), que teve exibição exclusiva no MIS na última quarta-feira, se propõe a contar a história de uma lenda do punk rock a fãs convictos e para um público não familiarizado com seu trabalho. Segundo Danny Garcia, diretor do documentário, o projeto quer “transformar a frase ‘quem é Johnny Thunders?’ em ‘eu amo Johnny Thunders’.”
O evento
A distribuição gratuita de ingressos para o filme começou por volta das 20h na bilheteria do MIS. Um coquetel de drinks com whiskeys patrocinadop ela Jack Daniel’s serviu todos os presentes até a exibição do documentário, às 21h.
O pôster do filme foi distribuído com uma camiseta a poucos convidados.
O público de todas as idades escancarava não somente o quão influente Thunders permanece, mas também sua versatilidade. Punk rockers, adolescentes e fashionistas bebiam, tiravam fotos e confraternizavam enquanto o começo da exibição não era anunciado.
Como num show dos New York Dolls, a platéia interagia o tempo todo durante os 90 minutos de documentário – seja cantando “Born To Lose” em coro enquanto Thunders apresentava a música no telão, ou chorando em silêncio enquanto ele contava sobre como seus problemas com drogas o afastaram de sua mulher e filha.
A qualidade de som e vídeo impressiona. Apesar da premissa faça-você-mesmo da produção*, a qualidade das gravações de shows dos anos 70 e 80 são um presente aos fãs. As entrevistas, atuais e restauradas, com personagens da época e ícones da cena também são documentos valiosos. “Juntei tudo que pude e falei com o máximo de pessoas que consegui gastando o menos possível”, afirmou o diretor. Ponto pra ele.
O filme retrata um pedaço de história do rock and roll pelas impressões daqueles que o viveram e moldaram, e deve agradar qualquer um que se interesse pelo assunto. É o segundo documentário sobre a história punk de Danny Garcia. O primeiro foi The Rise and Fall of The Clash, em 2013. Garcia ainda planeja lançar em 2015 o documentário Sad Vacation, sobre Sid Vicious e Nancy Spungen.
Looking For Johnny fecha seus 90 minutos em alta nota, que tira qualquer dúvida sobre o alcance de Johnny Thunders. Syl Sylvain, membro dos New York Dolls, reproduz uma citação sobre seu ex-parceiro de banda: “Bob Dylan disse querer ter escrito ‘You Can’t Put Your Arms Around a Memory’.”
*a verba para sua produção foi arrecadada pelo site Indieagogo, que ajuda diretores independentes a receber doações diretas do público interessado.
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